Filipe Mukenga: “Um dia desses morro, aí serei galardoado a título póstumo”

Com 57 anos de carreira, Filipe Mukenga é de opinião de que a classe artística angolana elevou o nome de Angola, conquistou respeito com o seu talento e a sua capacidade criativa. Numa breve conversa sobre o Dia Internacional do Artista, que se assinala hoje, Filipe Mukenga apresenta a verdadeira imagem e posição do artista angolano. Sem rodeios, o músico fala das suas ambições e deixa conselhos aos que quiserem fazer da música seu ganha-pão.

Que imagem o artista angolano conquistou nos últimos 20 anos?
Do meu ponto de vista, o artista angolano ganhou, sobretudo, respeito pela sua obra, elevando o seu talento e sua capacidade criativa aos mais altos patamares do mundo musical e, consequentemente, o nome do nosso país: Angola.

Quer dizer que a imagem se tem do artista hoje em dia é fruto desta conquista?
Produzindo, na sua maior parte, obras de excelência, nos nossos dias, o artista angolano deveria  merecer maior valorização e apoios financeiros, em meu entender,  por parte do Estado, o que não acontece. Veja que eu com 57 anos de carreira, com uma trajectória musical que todos conhecem e com obras musicais recheadas de conteúdo e ricas do ponto de vista melódico e harmónico, obras que correm o mundo nas vozes, por exemplo de Djavan, Flora Purim, Maurício Mattar, só para citar alguns nomes de músicos de primeiro plano, ainda não fui laureado com o Prémio Nacional De Cultura e  Artes. Um dia desses morro e aí serei, de certeza, galardoado a título póstumo, com o referido prémio.

Durante esse tempo, os artistas conseguiram a  profissionalização, que é um facto, o mesmo não se pode dizer com o conteúdo. O que terá originado este fenómeno?
A questão da pouca riqueza dos conteúdos das canções, creio que é essa a questão mais concreta que me coloca, facto muito visível em muitas obras, em meu entender, resulta da fraca literacia em muitos dos nossos músicos. É um problema antigo e que continua presente, arrastando-se nos nossos dias. Um bom músico, seja ele cantor, compositor, maestro ou instrumentista, não pode ser deficiente em termos de literacia; não pode ser um literátiço, mediocremente letrado ao nível académico e musical. Torna-se, pois, imperioso e sobretudo, que os talentos emergentes se engajem de alma e coração, na sua formação musical e académica, adquirindo as ferramentas que lhes possibilitarão  no final,  seguir uma carreira musical ou tecnocrática.

Com esta situação, que imagem projecta para o artista angolano nos próximos 10 anos?
A situação vai manter-se, caso não sejam tomadas medidas ao nível da formação académica e de infraestruturas.

Como é que Filipe Mukenga tem lembrado esta data, O Dia Internacional do artista?
Vou ser-lhe sincero, eu não sabia que o dia 24 de Agosto é o Dia Internacional do artista.

Kianda Kianda, Nós somos Nós, O Meu Lado Gume… Qual será a próxima novidade?
Informo-lhe que com a Covid-19, a pandemia que assola o mundo inteiro, obrigando toda gente a confinar-se em casa, tenho-me dedicado a compor. O mapa de novas composições, nascidas a partir de poesia e letras de diferentes autores é o seguinte:

Com Filipe Zau- Máscara ; Gostar De Ti, Eu Gosto; Simples. Com Amélia da Lomba- Nas Canções Dos Nossos Dias. Com Manuela Baptista- O Meu Sonho Não Vai Morrer; Rimas desencontradas; A Escalada dos Sentidos; Doce Pensamento; Não Lamento Amar Quem Amei; Passado Adormecido; Para Além Do Infinito; No Céu Fixei O Olhar; Nem o Mar Visito; Ruim Caminho; Saí Pela Noite; Não à Opiomania; Indefinido; Eu Quis Conquistar O Mundo; Fechar Os Olhos, Dormir; Não Quero A Monotonia; Ficaram Os Sonhos.
Com Nikki Menezes- Paladar; Dúvida; Outra.
Com Eugénio Lisboa-L’ecole Du Regard; Leonor Revisitada; Um olhar; Veneza Revisitada; Revisitar A Magia; Em Pisa, Se Avisa.

Tem canções suficientes para um novo álbum. Já pensou nisso?
São muitas canções que dão para muitos discos. Quem se oferece a financiar,  pelo menos, a gravação e produção  de dois álbuns? Hoje não estou ligado a nenhuma editora contratualmente e não vejo como concretizar este sonho, que talvez seja o último.

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