2020 será, com certeza, lembrado como o ano mais “negro” da história da música angolana. Em Fevereiro, a triste notícia sobre a morte de Kweno Ayonda aos 33 anos estremeceu o país e, quando os angolanos procuravam por algum consolo nas vozes de Waldemar Bastos, Carlos Burity, Teta Lágrimas, Jivago ou na bateria de Paulo Rymy, também viram estas estrelas partir.
Calaram-se as vozes, mas as obras serão sempre lembradas. Exemplo disso, aconteceu sábado no encerramento da VII temporada do Show do Mês. O projecto da Nova Energia colocou Carlos Burity, Kweno Ayonda, Waldemar Bastos, Jivago e Teta Lágrimas nas estrelas. Uma homenagem mais do que merecida, se se olhar para o contributo prestado pelos artistas à cultura angolana, a música em particular.
O vazio torna-se mais marcante e acentuado para o Semba. Com alguma excepção de Waldemar Bastos e/ ou Kweno Ayonda, todos eles dedicavam-se e exaltavam a bandeira do Semba e assistiram ao emergir do estilo na década de 40, por isso, tinham muito para ensinar a esta e próximas gerações.
Até à data da sua morte, aos 66 anos, Waldemar Bastos inscreveu seu nome no topo da música mundial, sendo a maior referência angolana do World Music. Para a memória colectiva, ficaram “Pitanga Madura”, “Teresa Ana” ou “Velha Xica” que constituem verdadeiro património cultural.
Descrito como um ano atípico, que “nem sequer devia existir”, 2020 leva consigo e deixa marcas negativas. As perdas começaram logo no início, com a morte de Kweno Ayonda, que deixa para a história lembranças como “Tu Vives Em Mim” ou “Isabel”.
Semana antes do adeus a Waldemar Bastos, o país procurava conformar-se com o passamento físico de Carlos Burity. O Autor “Malalanza” e “Canções Nostalgia”, morreu aos 67 anos, após enriquecer a música angolana com “Angolaritmo” “Carolina”, “Paxiiami”, entre outros álbuns.
Responsável pelos clássicos “Avó Teté” e “Ramiros”, Jivago foi a outra perda deste ano. O artista abandonou a música angolana aos 66 anos. Mais tarde, viria a ser seguido por Teta Lágrimas. Ambos exímios compositores.
Falecido em Fevereiro, Kueno Merquídes Vieira Ayonda foi o mais novo dos músicos e o primeiro a partir. Das suas maiores conquistas figura o Festival da Canção de Luanda da LAC com a música “ Tu Vives Em Mim”, em 2010.
Enquanto Teta Lágrimas ficou conhecido como um dos maiores compositores que o país teve. Lançou-se com “Amizade Colorida” e depois seguram-se álbuns como “Mãe de todos nós”, “Coisas da vida”, “Dilema”, “Luanda Já Foste Linda”, “Letra Chorada”, “Lágrimas do Coração” entre outros.
Calou-se a bateria de Paulo Van-Dúnem “Paulo Rymy”. Conhecido por tocar ao lado de artistas como Bonga, Eduardo Paim e Banda Canna D’Açucar, o músico morreu hoje vítima de cancro da pele. A morte do baterista foi confirmada esta tarde à Carga por um colega de profissão.
Paulo Rymy protagonizou-se como um dos melhores bateristas da nova geração e era solicitado pela maioria dos cantores angolanos, entre eles Bonga, Eduardo Paim e a Banda Canna D’Açucar da qual fazia parte.
Para sempre calou-se o ritmo da bateria, mas os frutos de Paulo Rymy continuarão na memória dos amantes da música e nos ouvidos de quem o ouviu tocar.