A ideia da matéria cuja leitura propomos, surgiu ao ler o artigo de opinião “Slang for the age, It´s Swag. Bae”, de Kory Stamper, do reputado New York Times. Ao proceder a leitura do referido artigo, dei de cara com a termo “OG”, e lembrei que o mesmo é usado com alguma frequência no universo hip hop e que ao longo de mais de 20 anos de estrada o tenho usado, mas nunca, quer por pretensão ou indolência procurei pesquisar com maior rigor a narrativa e origem por trás do termo.
Logo, como um apaixonado pelo hip hop de primeira via, enrolei as mangas e pus mãos à obra. Nessa jornada, descobri, que o termo “Original” foi usado pela primeira vez por Crips, em 1972, e significava “nós somos os primeiros”. A seguir passou a ser usada por todos, independentemente da idade.
A palavra “Gangster” foi adicionada no ano de 1974, derivado do Original Gangster Crips, hoje conhecido por Eight Tray Gangster Crips. Naquela altura era entendimento de Crips, que a palavra OG significava “Este é o ‘Conjunto’ de onde eu sou originalmente”, relactivamente a um Crip Original Westside ou Eastside.
Com o crescimento dos Crips vieram muitos indivíduos que antes haviam pertencido a outros Gangues. O termo se espalhou, e por volta dos anos 70, a palavra passou também a designar símbolo de lealdade profunda. Valia o mesmo que chamar alguém de nacionalista ou patriota.
Assim, nos finais dos anos 70 os Blood passaram a usar o termo “OG”, e os mais jovens membros dos Gangues passaram a chamar os mais velhos de “OGs”, e como podia se esperar, essa nova forma de tratamento ofereceu a palavra um estatuto de respeito, consideração e tornou-se exclusiva de uma faixa etária. Somente quem atingisse certa idade dentro do Gangue lhe seria reservado e outorgado o privilégio do termo “OG”. Não era qualquer um que poderia receber o nome, como infelizmente acontece hoje.
Com a migração de muitos membros das Gangues pelos Estados Unidos, essencialmente os Crips e com a transformação comercial do fenómeno da música Rap pelo mundo, que acabou por atingir as massas, o termo “OG” libertou-se das suas raízes de gangues e inelutavelmente, no final dos anos 80 e inícios dos anos 90, conquistou a cultura hip hop e a gíria, sendo usado em todo lado, e por quase todos, inclusive pelos meios de comunicação, empresas e não só.
Hoje o termo “OG” está bastante popularizado, vulgarizado e perdeu grande parte da sua simbologia, sendo atribuído a todos e por todos, quer tenham ou não algum mérito no jogo. Manos sem compromisso, luta, inteligência, integridade e conselhos sábios, estrada ou reconhecimento na cena também se chamam ou são chamados de “OGs”, condensando todo historial de reverência impresso no nome.
Já diziam Adisa Kamara e Ajani Kamara, ex-membros do gangue Crips que, passamos a citar, “existem muitas pessoas por aí, que não merecem o respeito, nem o reconhecimento que o título “OG” representa. Muitos manos, chamados de “Gs” abusam do seu estatuto, explorando e manipulando os rapazes mais novos para fazer o seu trabalho sujo, com fundamento nessa pretensa superioridade”.
Ainda segundo Adisa Kamara e Ajani Kamara “a pedra angular do carácter de cada OG / Ancião é a integridade; se isso for manchado por comportamento sujo, essa pessoa perde o direito de ser reconhecida como OG / Ancião”.
*Ngola Sambala