‘Ar Condicionado’ é a primeira longa-metragem de Fradique Bastos e da Produtora Geração 80 e marcará para sempre Aline Frazão. Pela primeira vez, a cantora compôs a trilha sonora de um filme e escreveu um tema para Paulo Flores. O filme ganhou projecção internacional logo na estreia e foi também seleccionado para o ‘We Are One: A Global Film Festival’ e será exibido este sábado. À Carga, Aline fala da primeira experiência e manifesta interesse em voltar a compor para o cinema.
Como descreve a sua participação no filme?
O realizador do “Ar Condicionado”, o Fradique, convidou-me para fazer a banda sonora do filme no final do ano passado. Quando aceitei o convite, o filme ainda só estava no papel, era só o guião. Gostei muito do que li. Mas só depois de começarem as filmagens, depois de ver algumas imagens é que comecei a compor a música do filme. E a música tem um papel especial neste filme, na própria linguagem das imagens.
Foi a sua primeira experiência de género?
Foi a primeira vez que fiz música para cinema. É muito desafiante, uma forma completamente nova de trabalhar. A música foi inspirada nos personagens, nas imagens da cidade de Luanda, no ritmo, na luz etc.. A música foi feita à medida do filme.
Quanto tempo precisou para a composição ?
Não havia muito tempo. O filme foi todo ele produzido com poucos recursos e baseado na garra e no empenho de toda uma equipa, desde os actores, equipa da Geração 80. Na música não foi diferente. O processo foi fluído e rápido, muito baseado na intuição. Tive a sorte de poder trabalhar com músicos que já conhecia, alguns cá em Luanda, outros em Lisboa, à distância. Isso facilitou as coisas, a comunicação fluiu melhor por poder trabalhar com um time profissional e talentoso. E neste caso, como todos os temas são instrumentais, excepto o que tem a maravilhosa voz do Paulo Flores. Era importante que a performance dos músicos e técnicos estivesse à alturab e assim foi. Fiquei muito contente com o resultado final.
Como é que é compor para o cinema?
Já gostava muito de cinema, mas realmente poder “conversar” com as imagens através da música, entrar na história, ajudar a contar a história é maravilhoso. Em especial com um filme destes que, na minha opinião, vai marcar a história do cinema angolano, não só pela história que conta, mas pela forma como o faz, com uma sensibilidade eexextraordinária.
É uma experiência que pode vir marcar os seus próximos trabalhos?
Se houver algum convite, pode ser que sim. É muito bom poder alternar projectos. No caso desta banda sonora eu sou mesmo só compositora e produtora da música, não canto nem toco. É um papel que me dá muito gozo também, poder observar mais de fora, dirigir os músicos até chegarmos ao resultado final. Quando se trata do meu trabalho a solo é completamente diferente, escrevo, produzo e subo aos palcos. É bom poder combinar os dois papeis e ficaria feliz com novas oportunidades, claro.
Se voltasse a ser convidada para compor a trilha sonora de um outro filme que cuidados teria?
Então, se gostasse da historia não teria nenhum problema em repetir a experiência de fazer a banda sonora de outro filme, sim.
O filme tem tido boa aceitação no mercado internacional, sonha com um prémio?
O filme tem tido uma excelente acolhida pelos festivais internacionais e só isso já nos deixa muito felizes, porque é uma forma de levar o cinema angolano para outro patamar. As críticas também têm sido muito positivas. Acho que não há ninguém que fique indiferente a este filme. É um filme que mexe connosco e traz para a tema personagens do dia-a-dia de Luanda, anónimos, trabalhadores, na luta. É uma bela homenagem a esta cidade e a toda a gente que nela resiste.
Que outros momentos marcaram o filme?
Só para ficar claro aqui um ponto importante de referir, o Paulo Flores participa na banda sonora, cantando uma das músicas. Ficamos todos honrados com a participação dele, e eu particularmente emocionada por ele aceitar cantar um tema escrito por mim. Escrevi para ele e para o filme. É um momento muito emotivo do filme, mágico mesmo.