Gohu, pseudónimo de Hugo Veiga, é um português que vive no Brasil há 15 anos. Desde cedo, esteve ligado à música, mas a profissão como publicitário não lhe permitia explorar esse talento. O artista tem agendado para 2021 o lançamento do álbum de estreia e, para contornar a situação dos cancelamentos de shows , foi obrigado a ser muito mais criativo.
Parece, de facto, uma obra de ficção. Os artistas actualmente encontram nos lives a melhor forma de proporcionar espectáculos, por que razão optou pelos pássaros?
A ideia inicial era de fazer um pequeno show de lançamento ao vivo. Como a quarentena o impossibilitou, poderia até fazer um live, como todos os artistas estão fazendo. Mas para um artista como eu, recém-lançado e parco em fãs, ficaria difícil. Assim, surgiu a ideia de fazer algo diferente. Como partilho o corpo com o publicitário Hugo Veiga, que entende bastante sobre como criar algo que saia do lugar comum, surgiu esta ideia de treinar passarinhos a cantar as melodias de músicas do álbum e lançá-los pelos ares de Portugal, Brasil e Angola. Já que os shows ao vivo estão proibidos, as pessoas poderão escutar as músicas ao vivo, por seres vivos. Pelo menos, essa é a história que se vê nas redes sociais.
Estes pássaros são seus? De que género se trata?
Assim como os humanos, que aprendem a falar imitando as palavras, os filhotes dos pássaros aprendem a cantar copiando a vocalização das aves adultas ao longo do seu desenvolvimento. Então, pegamos nas melodias chave das minhas músicas e, em pós-produção de áudio, criamos uma versão em canto de diferentes pássaros. A música foi gravada em loop e, durante semanas, os passarinhos foram escutando as músicas.
Para cada música, foram escolhidas espécies que melhor conseguem replicar a sua musicalidade. Em Angola, não tenho certeza de que pássaros foram usados, mas no Brasil, por exemplo, usamos bem-te-vi e pardais.
Como funciona o processo?
O processo de aprendizado foi rápido e nenhum pássaro foi maltratado.
E como é que percebe que a mensagem tem chegado aos destinatários?
A acção de lançamento do álbum é tão inusitada, que várias pessoas têm enviado mensagens “rachando o bico” (expressão brasileira que significa rir muito). Essa é a reacção principal. Crio numa indústria de entretenimento e surpreender as pessoas de uma forma positiva é o que me move. Quer seja pela música, quer seja pelo jeito de a trazer ao mundo.
Há quanto tempo começou e quais têm sido as dificuldades?
O projecto do Gohu começou a ser trabalhado há cerca de um ano, mas a vontade de lançar um projecto musical sempre esteve latente ao longo da vida. A maior dificuldade é tempo. O Hugo Veiga gere o escritório de uma agência de publicidade em São Paulo, que absorve muito do seu tempo.
O processo de criação até acaba por ser muito digital. A maioria das músicas é vocalizada em áudios de Whatsapp, acompanhada de referências, que são muito bem traduzidas pelo produtor musical e amigo, Emerson Martins da bamba Music.
Referiu que a mensagem já chegou a Portugal. Estas aves andam à solta?
Vários passarinhos têm surgido em stories de várias pessoas e influencers. Se os passarinhos são reais ou não, prefiro deixar a resposta no imaginário de cada um.
Também foi forçado a cancelar shows por causa do Covid-19?
Como ainda só tenho um single lançado, não tinha nenhum show marcado.
Já começa a haver menos espaço para o Hugo, como vai gerir isso?
Como em tudo nesta vida, sempre dá para achar um equilíbrio. Até hoje, o Hugo Veiga monopolizou a agenda do Gohu. Acredito que haja agora espaço para umas apresentações ao vivo no Brasil, Portugal e até em qualquer outro país de onde surja um convite.
Sabe-se que o álbum de estreia está previsto para o próximo ano. Como andam as coisas?
O álbum ainda não tem nome, mas já tem corpo e alma. Neste momento, tenho 10 músicas produzidas, mas pode ser que mude algumas e crie outras. Vai Ficar Fixe, por exemplo, teve que ter a sua letra reescrita para fazer sentido em tempos de pandemia. Estamos vivendo um período em que as coisas mudam da manhã para a tarde. Até ao começo de 2021, data que pretendo lançar o álbum, muita coisa pode mudar.
Antes disso, se prevê alguns concertos de apresentação do mesmo?
Estou aberto e ficaria feliz se isso acontecesse.
Quando seria a possibilidade de um concerto em Portugal?
Assim que as passagens de avião forem retomadas e haja interesse do público.
Depois da música ‘Vai Ficar Fixe’, o que seguirá nos próximos 40 dias?
Nas próximas duas semanas, irei lançar um remix de “Vai Ficar Fixe” por um grande DJ brasileiro. No final de Maio ou começo de Junho será lançado o segundo single ‘A Santa levantou a Saia’, que é um hino à liberdade e aceitação pessoal.
Que participações reservam o álbum?
Até agora, tenho dois feats confirmados com dois amigos. Um de infância, que é cantor profissional, e outro de faculdade, que é um conhecido apresentador de TV. E claro, estou aberto a outras parcerias. Adoraria cantar junto com um artista angolano.
Que palco já passou e que reserva maiores recordações ?
Música sempre foi a minha maior paixão criativa. Aos 16 anos, com amigos do clube de Atletismo que frequentava, fundei os Moda Foca (Osvaldo Barbosa, Ricardo Correia, Nuno Trindade e o Adelino), uma banda sem fãs, nem talento, que levou os vizinhos que escutavam os nossos ensaios à loucura. Ainda assim, os Moda Foca ainda deram vários concertos/shows ao vivo. O primeiro deles, aconteceu no subsolo do Padaria Bar. Deviam estar uns 15 desconhecidos e uns 15 amigos. O palco era tão pequeno, que eu tive que cantar no meio da pista “protegido” por um segurança. Os Moda Foca tocavam grunge, e a primeira música era a mais forte de todas. Assim que “Dead or Alive” elevou a sua força, o pessoal todo começou ao mosh. O segurança tentava conter a multidão (eram 30, mas pareciam 300… 3 mil).
Este foi o momento criativo mais feliz da minha vida: partilhar a minha música com amigos e 15 desconhecidos. Quem sabe agora, vou recolher memórias tão enriquecedoras quanto esta.