O quarto colocado do BBB20, Babu Santana, vai interpretar a personagem Jacinto na telenovela ‘Novo Mundo’ em exibição em Angola todos os dias, de segunda a sábado, às 20 horas no canal Globo HD, posição 10 da ZAP.
A presença marcante de Babu Santana na última edição do reality show despertou a atenção e curiosidade dos internautas sobre os pontos de vista relactivos a “pretitude”, tal como o próprio o diz, e às questões relaccionadas a identidade cultural dos povos negros que habitam o Brasil. Babu defende a necessidade de se conhecer o percurso da ancestralidade para a afirmação dos povos: ”hoje eu tenho um projecto pessoal que é fazer a pesquisa da minha ancestralidade”, afirmou. Uma vez ter conquistado a simpatia de muitos telespectadores do canal Globo, quer pela participação exitosa no BBB20, bem como a interpretação de Jacinto em ’Novo Mundo’, Babu Santana concedeu uma entrevista de abordagem variada onde manifesta o interesse de trabalhar em Angola.
Em ‘Novo Mundo’ você interpreta Jacinto, um capataz. Que bases teve para representá-lo? Fez algum tipo de preparação para viver o personagem?
O Jacinto é um personagem lindo que foi crescendo durante a trama eu acho que talvez tenha sido a preparação mais intensa que eu fiz para a TV. Todo o elenco se reunia três vezes por semana, pelo menos, nos Estúdios Globo. Fiz aula de montaria, aula de história, muita coisa para compor o Jacinto. Era um cara que, em primeiro plano, eu sabia que atentaria contra a vida de D. Pedro I. Estudei, fui buscar a história dele, tive até treinamento com personal trainer… Foi um trabalho bastante intenso, até hoje nos falo com o pessoal da novela.
O tráfico de escravos é um tema abordado na novela ‘Novo Mundo’. Como você acha que isto impactou no processo de afirmação dos povos africanos?
Toda conversa que traz à tona esse assunto é importante no país para a gente criar uma identidade. Aqui no Brasil, inicialmente só tínhamos índios, de repente foram chegando os portugueses, os espanhóis, os franceses, os africanos arrancados de suas terras pra cá…. E aqui se tornou uma mistura de pessoas. Tem gente que discute até tonalidades de pretitude aqui no Brasil. Criou-se uma miscigenação muito louca. Lembro que uma vez, em uma viagem internacional me falaram para tomar cuidado com meu passaporte porque ele é muito visado, o brasileiro não tem uma cara só. A história central de ‘Novo Mundo’ não era sobre os escravizados. Acho que poucas novelas, filmes e peças de teatro no Brasil tratam da escravização do nosso povo para que a gente possa debater mais profundamente o tema. ‘Novo Mundo’ conta uma parte da história do Brasil e a escravização vem em paralelo a esta história. Mas acho que é uma questão geral da nossa cultura, de se falar pouco deste assunto.
Você acha que o brasileiro afro-descendente se sente um pouco africano? Você tem alguma relação com a cultura africana?
Minha vó veio do Recôncavo Baiano (região da Bahia) e minha mãe veio de Pernambuco, também no Nordeste do Brasil. O brasileiro é esse grande mestiço do mundo. Eu sinto a África muito forte no meu peito. Estive uma vez em um festival de cinema em Durban, na África do Sul. Eu lembro que eu me arrepiei quando a gente cruzou o Atlântico e começou a sobrevoar o continente africano. Eu já pensei em trabalhar em Angola, Cabo Verde, porque são países de língua portuguesa. E quando vejo trabalhos de africanos também fico muito feliz, me identifico. Recentemente, começamos a resgatar esta proximidade entre Brasil e África. Eu mesmo comecei a ser um estudioso da causa há pouco tempo, depois de viver tantos anos sem representatividade. Nós temos nossos herois aqui: Grande Otelo, Milton Gonçalves, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Martinho da Vila… Nós temos muitos herois, mas pouca representatividade. E eu passei pela minha adolescência e parte da fase adulta sem estar presente nestas discussões por não ser ofertado para mim este debate. Quando eu cresço e começo a disputar personagens e a pensar política, eu começo a pensar nessa representatividade. Hoje eu tenho um projecto pessoal que é fazer a pesquisa da minha ancestralidade: quero achar meu parente africano mais próximo e meu parente indígena mais próximo para entender de onde eu vim.
Como compreende as expressões Afro e Negritude?
Eu acho que afro está relacionado a tudo que nós herdamos da África: moda, cabelo, cultura, cor da pele. Negritude passa por toda a questão do orgulho, pertencimento, envolvimento, pensamento do universo dos pretos. Eu gosto muito de falar em pretitude. Pretitude e negritude são a mesma coisa e termos inerentes ao nosso universo.
Qual é a sua definição de racismo?
Acho que quando alguém tenta ser superior ou mais importante só por ser diferente do outro. Por exemplo, alguém que se acha melhor que um preto só porque ele é branco ou de outra etnia, isso para mim é racismo. Quando alguém tenta oprimir a cultura de um outro povo ou outra raça, isso para mim é racismo. O povo preto africano sofreu muito durante um longo período da História, nos foram negados nossa cultura, nossas referências… Toda vez que alguém tenta oprimir o outro por causa da cor da pele, ou se sente superior por isso, é racismo. Isso não inventado pelo nosso povo e tenho maior orgulho disso.
Conhece África?
Eu conheço a África através de estudos e de uma visita que fiz a Durban, na África do Sul, para participar de um festival de cinema. Tenho muita curiosidade de conhecer Angola, Cabo Verde e também a savana africana. E sobretudo queria chegar no meu ancestral africano e saber de onde ele saiu e veio parar aqui no Brasil.
A Sua participação no BBB20 teve muita repercussão em Angola. Gostaria de falar rapidamente do impacto do programa na sua vida? Eu sempre assisti ao BBB, era uma forma de entreter os meus finais de noite. Era um programa que já estava na 20ª edição, eu tinha toda curiosidade por aquela piscina, aquela sala, o confinamento. Então eu me joguei de cabeça. Fiquei com medo de ser criticado pela minha história artística, de acharem que eu poderia ter algum tipo de vantagem ou desvantagem, mas no fim tudo foi muito bom. O reality acabou colocando uma lente de aumento nos meus trabalhos, me trouxe até perto de vocês, em Angola, por exemplo. Eu já era optimista com relação à minha participação pré-BBB, agora eu sinto como se fosse um golaço! Aqui no Brasil nós somos muito apaixonados por futebol e a torcida do Flamengo me apoiou muito e isso foi um sonho! Então, eu consegui aproveitar muito a minha participação no programa. Fiquei muito feliz com o resultado final, com a vitória da Thelminha, e por ver depois que várias coisas que eu debati lá dentro repercutiram aqui fora e abriram várias discussões que faltavam por aqui. Só debatendo nós conseguimos ver aonde estão os problemas e chegar às soluções. Que bom que eu consegui “botar essa pilha”, que bom que eu cheguei a um quarto lugar. Foi uma experiência maravilhosa.