Uma caminhada de quase meio século, que se traduz em álbuns, espectáculos, bibliografias, viagens e com um único objectivo: despertar a consciência africana por meio do Semba, género que se vai tornando na sua própria antonomázia.
Bonga, a lenda angolana do Semba, assumiu o compromisso com a música há 48 anos, altura em que lançou o seu primeiro álbum “Angola 72”, uma obra sobre o então contexto, mas que foi mal compreendida na época, lembra o artista.
Depois disso, vieram mais 38 álbuns. O músico angolano é hoje conhecido mundialmente, não só pela sua arte, mas também como um símbolo da libertação e independência africana.
O modus vivendi de Bonga continua a suscitar e ser notícia na imprensa internacional. Na semana finda, voltou a ser manchete no EuroNews, como a lenda viva do Semba.
Do seu primeiro disco publicado em 1972, o autor descreve “Havia muita gente calada, muita gente acobardada, muita gente situada. Os situacionistas, que ganhavam algum dinheiro com a colonização, fossem eles brancos ou negros. É um disco que foi falar de todas essas coisas”.
Registado com o nome José Adelino Barcelo de Carvalho Bonga, nasceu em 1942, em Kapari, Bengo. Antes de embarcar para a carreira musical, foi atleta e sagrou-se recordista de 400 metros pelo Benfica.
A voz da descolonização
Aos 23 anos, chegou a Portugal, mas os ideais políticos e a defesa da independência de Angola, na altura uma colónia portuguesa, forçaram-no ao exílio, nos Países Baixos.
A viver actualmente em Lisboa, Bonga tornou-se num grande sucesso em Angola, Portugal e um pouco por todo o mundo, chegando a ser homenageado em França pela contribuição que deu às artes.
Hoje, aos 78 anos, continua a produzir. “Kúdia kuetu”, lançado em Outubro último, é a sua mais recente canção, inspirada na gastronomia angolana.