São poucos os músicos capazes de assumir e embelezar suas canções com a dor por que foram vítimas na infância, tal como faz Chakuisa, antes MC Chakuisa. O músico usa arte como instrumento de revolta e apelo à mudança de atitude, ainda que de forma dançante.
É um velho amigo da música. Começou no Hip Hop/ Rap e tem dois trabalhos no mercado, incluindo participações de peso, só que desta vez, reestruturou a sua carreira e anuncia “O Filho da Mapunda”, um Ep rico em sonoridades e com uma variedade de línguas, que homenageia o bairro onde nasceu, na Huíla.
A obra inédita e transversal é um resumo sobre o desenvolvimento artístico deste filho de Mapunda. Reúne, entre outras, participações de Nicol Ananás e retrata sobre a fuga à paternidade, a prostituição, o amor, a fraqueza e a falsidade.
Parte das letras do EP Chakuisa escreveu num momento de angústia, dor, amargura, agonia e revolta.

Foi pelo Rap que se tornou conhecido. Gostaria de partilhar os motivos que o fizeram mudar de estilo?
Na verdade, o Rap ou melhor o Hip Hop como movimento social e cultura foi a minha primeira escola de música. O rap foi o estilo que me fez conhecer palavras porque era necessário ler muito para se fazer uma boa composição, com o rap aprendi a ser mas interventivo.
Em 2012 quando me inscrevi na Casa da Musica (Escola de Música ) aprendi que a música era muito mais complexa que o Rap, que o Rap era um grande estilo, mas para ser completo precisava aprender mais sobre técnicas musicais. Aprendi muito na escola de música que revolucionou muito a minha musicalidade .
Nesta obra decide falar das suas lutas, derrotas e vitórias, porquê?
A vida foi sempre boa para mim porque eu nasci ,cresci e hoje sou um homem. A minha mãe não me abortou, criou-me, deu- me formação, amor e fez de mim um homem. Meu pai abandonou-me criança, nunca vi o rosto dele, passei muitas dificuldades e a primeira foi a ausência paterna, isso revoltou-me muito. Nunca vivemos no berço de ouro, mas sempre tivemos firmeza. Nesta minha obra falo muito sobre a fuga à paternidade, a prostituição, o amor, a fraqueza e a falsidade.
Eu fui abandonado e infelizmente estava a abandonar o meu filho também, eu mudei o rumo para que o meu filho não passasse o que passei, um filho nunca tem culpa pelos erros dos pais .
Se considera um homem de muitas derrotas?
A maior derrota foi quando meu pai me abandonou (emoções), isso dói-me muito e não quero que ninguém um dia passa por isso. Quando tens Deus, nunca te podes sentir derrotado, hoje digo o derrotado é meu pai porque hoje sou vencedor.

Diferente do anterior, neste EP reúne o RnB, Zouk, Soul e o Trap. O que quer transmitir com isso?
Quero expressar o meu crescimento musical, quero convidar vários ouvintes de diversas idades e de diversos gostos para poderem desfrutar de tudo um pouco, até porque as minhas composições dependem muito do momento que me encontro a viver .
Acompanhou quase todos os últimos desenvolvimentos da música angolana. Até que ponto isso influenciou esta obra?
Este EP, praticamente, vem mostrar que um artista nunca pode ficar estático em um só estilo; vem para provar que podemos diversificar a nossa arte, hoje a música angolana esta dinâmica como de outros países com a chegada da Internet, temos a facilidade de podermos fazer chegar mais longe nossa música apenas em um click. Está a chegar um momento melhor para a música em angola, antes dependíamos muito das rádios, tvs e blogs, hoje nós podemos gerenciar nossa carreira digitalmente podemos vender nossas músicas a distribuidoras digitais ou operadoras telefônicas em angola e Moçambique .
Em termos temáticos e produção, em que aspectos acha que esta obra poderá beneficiar a música angolana?
Trago temas como “Yena Mwana” com participação de Nicol Ananaz . É um tema que trago uma junção do Cokwe e Umbundu- uma forma de incentivar a juventude a valorizarem as nossas línguas. Músicas como “Vencedor”, que é um incentivo para as pessoas lutarem pelos seus sonhos, porque acredito que um sonho nunca morre, mas sim o sonhador, entre outros.
Antes da data de lançamento, como vai alimentar a curiosidade dos fãs?
Tenho estado a lançar singles soltos, mas ainda em julho, lanço mais um single com um vídeoclip já está tudo pronto para o lançamento.
Que Chakuisa teremos nessa nova etapa da sua carreira?
Um Chakuisa com maturidade vocal e técnica , terá Rap, bom rap neste álbum, com duas produções e participação de dois produtores rappers do Brasil, muito bom Trap Soul e Zouk.