É um dos poucos artistas angolanos da sua época que vê a música como o instrumento ideal para firmação da sua identidade e promoção das raízes africanas.
Nos seus versos complexos, Coréon Dú vai apresentando preocupações para a construção de um mundo melhor, tendo o amor romântico, próprio, espiritual ou sombrio como a base de sustentação das suas letras.
Seu sucesso artístico ultrapassa a dimensão musical. Pois, além de marcar presença no topo da Bilboard e ser nomeado para vários prémios nacionais e internacionais, suas coleccões de roupas são das mais raras peças inspiradas na cultura e tradições africanas destacadas nas maiores passarelas do mundo.
É um artista autêntico e multifacetado cuja carreira musical pode ser resumida nos álbuns The Coréon Experiment,The Love Experiment, Binário e, mais recentemente, The Love Infinity, disponível em todas as plataformas de streaming.
Numa conversa livre e aberta com a Carga, Coréon Dú mostrou que tem muito mais para contribuir em prol da africanidade do que tudo aquilo que já fez. O autor de Pele Café fala das últimas novidades.

É uma personalidade com várias facetas, mas a música parece ocupar mais espaço na sua vida. Porquê?
Apesar de não ter o privilégio de poder ter a música como a minha única profissão, a música vive em mim e sempre viverá.
Como funciona o seu processo criativo?
Não creio que tenha um único processo criativo, particularmente com a música, pois não pertenço a uma editora musical. Habitualmente os artistas em grandes editoras tem uma maior pressão para desenvolver um processo criativo concreto, pois têm obrigações comerciais e prazos de
criação e lançamento traçados de forma mais rigorosa. Como ainda não tive esta oportunidade, continuo a criar música de forma bastante orgânica e sem o mesmo grau de pressão para seguir procedimentos específicos a uma estrutura comercial.
O que normalmente envolve suas criações artísticas?
Nos meus outros compromissos profissionais, tenho estes processos e
procedimentos por haver essa exigência . Mas, felizmente, não sucede o mesmo com a música até ao momento.
A única coisa que acho importante para a boa criação musical é pesquisar
constantemente e manter a mente e ouvido abertos a novas ideias .
O amor está quase sempre no centro das suas temáticas. Que tipo de mensagens quis transmitir no tema Pele Café?
Acho que o romantismo no sentido amplo esteve mais presente do que o amor nas minhas obras passadas. Decidi dedicar-me analisar o amor a nível musical, pois é um tema com infinitas possibilidades e que no
século XXI precisa de ser revisitado.
Quanto ao Pele Café?
Pele Café recflete um tipo de amor que as vezes é esquecido, o amor próprio. Isto é comum no geral, mas principalmente para pessoas de origem negra. Nasci em Angola , cresci principalmente nos Estados Unidos
da América e trabalho um pouco por vários países dentro e fora do continente africano. Em três décadas de vida, notei que existe uma forte crise de auto-estima de muitas pessoas sobre a sua negritude e auto-
rejeição. Até a pessoa aparentemente mais confiante acaba por sentir-se diminuída por um factor que deve ser celebrado .
Que mensagem quis que se retivesse da letra?
O Pele Café é exactamente para comemorar todos tons de pele café, todas as pessoas que tem pele café e a todos que querem bem as pessoas com pele café na sua vida. É uma mensagem que acho importante para todas as faixas etárias. Temos de incentivar-nos a nós mesmos e aos demais para mais amor próprio. Se não formos gentis e bondosos connosco mesmos ,
será difícil retribuir isso com quem nos ama .
Por que motivo decidiu trazer este assunto para a música?
Foi uma criação espontânea . Eu e o Mallaryah desenvolvemos esta canção
de forma bastante orgânica. Com o vídeo, tentei ver a melhor forma de celebrar e transmitir esta mensagem de incentivo ao auto-amor e autoestima que devemos ter todos os dias.
Sempre se preocupou em elevar a cultura africana, a angolana em
particular, através da música, basta recordar o Binário ou o The Coréon
Expriment. Até onde vão suas “lutas”
Tento apenas ser autêntico e focar-me em projectos criativos em que os meus talentos ou experiência técnica possam complementar.
Depois do lançamento do Pele Café, o que podemos esperar de si ainda este ano?
Sempre fui focado no presente, porque acho importante relembrar que ser artista como profissão requer muito pragmatismo aliado à criatividade. Nunca gostei de antever o que vou fazer, prefiro partilhar o que estou a fazer no presente, que de momento é a promoção do Álbum “ Love Infinity” lançado no fim de Novembro de 2020. Fora da área musical, este ano sai meu documentário “Bangaologia – A
Ciência do Estilo”