O anúncio sobre a morte de Bang, foi feito na fatídica manhã de segunda-feira, no passado dia 11 de Janeiro de 2021. Este ano, Dino Cross, na qualidade de amigo e profissional da cultura, usou o podcast `Mambos HIPHOP da Banda´ memorou a obra e vida daquele que ainda hoje, é considerado um dos “gigantes” do entretenimento moçambicano.
Intitulado ` Uma História de Música´, o episódio cujo propósito é passar um testemunho do homem de cultura e orgulhosamente Moçambicano que o Bang foi, já está disponível para escuta. Na qualidade de alguém que teve o privilégio de conviver e privar por anos, Dino Cross afirma com propriedade que “nunca houve ou se tenha registo de alguém que tanto fez pelo entretenimento e divulgação interna e externa da música Moçambicana como Bang.”
O empresário e produtor de eventos Adelson Mourinho “Bang”, esposo da cantora Lizha James, morreu vítima de um cancro no estomago e esteve internado desde Agosto de 2020, na África do Sul, onde passou por uma cirurgia, mas ainda assim não resistiu.
O tributo nas palavras e voz de Dino Cross
Um ano depois da sua partida encontrei energia para gravar um episódio a falar sobre o Bang, em vida um grande amigo que juntos partilhávamos o desejo de fazer algo pela música dos nossos respectivos países.
Este episódio é sobre quem foi o Bang, uma história de música no ângulo de visão da nossa amizade. Mas falar de Bang é falar de música, essa paixão que nos movimentava, foi por via da música que os meus olhos viraram-se para Moçambique.
Passava muitos vídeos no channel O e um desses dias passou DRP e prendeu a minha atenção e a minha pergunta era “de onde eles são?”, entre um rap e outro, num outro dia, neste mesmo canal ouvi pela primeira vez Lizha James na música for all yah e no fim desse vídeo entra uma outra música da Lizha James com a participação estrondosa da Ivannea hoje conhecida por dama do blingue fiquei uaaaaaau, esse team é dope, muito dope.
A música Moçambicana está a vir com força, pensei, é esse conteúdo que precisamos para o hipflickz. Foi daí que Em outubro de 2006 fiz a primeira de muitas viagens a Moçambique, naquela altura nem me passava pela cabeça que teria uma ligação forte com aquele país que mais tarde veio a ser a minha segunda casa.
Saindo de Pretoria na África do Sul, cheguei a Maputo com o objectivo bem definido, fazer uma reportagem sobre o Hip hop Moçambicano para o site www.hipflickz.com. Como pretendia entrevistar os principais protagonistas do hip hop moz na altura, tive algumas dificuldades em estar com o pessoal da Bang Entretenimento, (com excepção da Dama do Bling que já éramos amigos) Duas Caras e outros artistas, porque se calhar não me conheciam. Logo, sem referências nem todo mundo está disponível para conversar.
Para inverter essa situação achei que precisava ser bem apresentado a classe dos artistas liguei para o Big Nelo que estava em Luanda na altura e falamos o seguinte:- Nelo estou em Maputo e tenho dificuldades em entrevistar o pessoal da Bang, estão a deixar-me muito tempo a espera e nada acontece a dois dias. Liga para o pessoal que conheces aqui e diz quem sou e o que realmente faço.
– volte a ligar para o Bang e peça para que ele ligue para mim agora. Disse-me Big Nelo O rei das connections. 10 minutos depois desta conversa recebi uma chamada do Bang e logo já éramos literalmente grandes amigos, no dia seguinte levou-me a dar uma volta por alguns pontos da cidade, apresentou-me os tais de Maputo e esse passeio teve o valor simbólico da entrega das chaves da cidade, porque ser visto pela classe dos artistas a andar com o Bang teve um efeito mágico, daquele dia em diante as portas da cidade de Maputo se abriram para mim.
Foi assim que nos conhecemos e nasceu uma amizade com referências e bases fundadas no respeito mútuo, admiração e na música Amizade que gerou impacto na cultura e amizade entre Angola e Moçambique. Falávamos muito sobre música, o Bang partilhava os planos de fazer a música moz crescer em Angola e debatíamos sobre as suas estratégias, eu dizia que da mesma maneira que os vídeos no canal internacional channel O chamaram a minha atenção o certo é que despertaria igualmente a atenção de outras pessoas logoessa estratégia associada a boa música que fazemera perfeita.
E assim a bang entretenimento cresceu além das fronteiras de Moçambique com músicas que levaram a nomeações no channel O Awards. O pandza cresceu, mais artistas de Moçambique passaram a ser conhecidos, eram shows atrás de show no verão e no inverno e o sucesso chegou a algumas províncias de Angola, acompanhadas pelo Bang, Dama do Bling e as Dejavu, Marlene e outros artistas doutras labels chegam a Angola pela primeira vez para cantar na província do Cuando Cubango, não levou muito tempo Lizha James e bailarinos, Dama do Bling e as Dejavu foram artistas de cartaz em Show na província de Cabinda.
Bang liga para mim e diz Dino chegamos a Luanda e vamos a Cabinda, ao que respondi, eu vos acompanho irmão, foi assim que cheguei a Cabinda para testemunhar aquele momento de crescimento da label, embora a faltar show em Luanda, os maiores e principais espetáculos que aconteciam em Angola. Um passo em frente e dois para trás com a saída da Dama do Bling da Bang Entretenimento que veio a acontecer no regresso a Moçambique.
Desta vez a chamada do Bang que estava todo abalado foi “Bro, não percebo porque a Dama do Bling está a nos deixar, ela não diz o motivo, você é amigo dela, conversa com ela”. Nesta altura estava desfeita a magia em palco que só a dupla Dama do Bling e Lizha James faziam. Agora sem a Dama do bling e outros que seguiram o seu caminho. Bang passou a criar mais estratégias para fazer crescer a nível internacional os artistas com quem trabalhava.
Música e mais música, enaltecer a cultura e lidar com a música numa perspectiva de negócios, Bang foi um homem de negócios. Ainda na sua visão de crescimento, certa vez falamos sobre o facto dos palcos de Luanda serem importantes e que ainda não havia acontecido, daí ele perguntar-me “você que conhece melhoro mercado angolano o que achas que falta? que tal a Lizha fazer colaboração com 2 grandes artistas angolanos? A resposta foram em músicas de muito sucesso que abriram espaço para algo maior, a Lizha não só pisou os palcos de Luanda como actuou nos melhores.
Naturalmente como toda relação, a nossa teve as boas fasese as zangas, mas a amizade sobrepôs-se a tudo isso que nos levava a conversas que iam além da música até aos últimos dias…
A sua partida a 11 de Janeiro de 2021, deixou-me abalado, mas isso é outra história, uma triste história, e o propósito deste episódio é dar testemunho do homem de cultura e orgulhosamente Moçambicano que o Bang foi. Nunca houve que se tenha registo alguém que tanto fez pelo entretenimento e divulgação interna e externada música Moçambicana como o Bang.
Adeus amigo!