São duas figuras distintas que, sem medir esforço, vêem a música o capital simbólico para içar a bandeira da resistência cultural, inspirando, deste modo, os demais a exaltar as cores da cultura angolana.
Desta vez, os músicos voltam a encontrar-se, para uma reunião fora da música. Dog Murras vai receber no dia 3 de Maio, Barceló de Carvalho ” Bonga”, na rubrica TerrATerra, para falarem sobre os nossos valores culturais, as tradições africanas e os destinos dos angolanos, numa conversa aberta à moda angolana, despida de cores partidárias.
Dog Murras entende que chegou o momento de os angolanos perceberem o seu valor pluriticultural e que é um povo multiétnico. O músico está a preparar o seu segundo livro intitulado “Todos Contra Todos” e aproveitou esta entrevista para falar do seu próximo álbum.
Como é que nasce o programa Pensar Angola?
Pensar Angola com Dog Murras” é um canal de mídia digital alternativa de opinião pública e o “TerrATerra” é uma rubrica de debates interactivos, uma linha aberta de conversas descontraídas, sem truques e pimpas, sem fato e gravata, natural, tipo aquelas que temos nos sábados, em mesa redonda no quintal dos nossos musseques, regada com funjada, kissangua e o mote principal é a preocupação com a nossa cultura, os nossos valores, as nossas tradições africanas, os nossos destinos, de modo aberto e claro, despidos de cores partidárias, sem ofensas e faltas de respeito.
Por que razão decidiram abrir a edição com Bonga?
Nestes encontros teremos a participação especial de angolanos, homens e mulheres do universo cultural, desportivo, religioso, político, social etc. Vamos contar com gente que ama Angola e luta por ela, cada um à sua maneira. O Kota Bonga foi o convidado especial deste pontapé inicial por ser uma referência incontornável e incontestável do “bem-querer” para a nossa gente.

O que espera que se retenha dos pontos aí abordados para a elaboração das políticas públicas ligadas ao sector cultural?
Eu sou um objector de consciências. Todos os trabalhos em que me envolvo, tenho, à partida, a preocupação fundamental de deixar o meu recado aberto, por isso utilizo o linguajar da “buala”, o português de Angola, com a necessidade de ser entendido e compreendido por todos os extractos da nossa sociedade e com a finalidade de evitar distorções na minha fala. Essa é a minha parte, o meu contributo como filho desta terra, depois cabe a cada um dos outros filhos d´Angola entenderem as suas partes e darem sequência, contribuírem com os seus actos, cumprindo as suas obrigações, sejam elas morais ou profissionais.
O que isso quer dizer?
Ainda é cedo para avançarmos. Tanto eu, como a equipa que me acompanha, esperamos, com esse projecto, iluminar vias alternativas, que permitam aos nosso governantes olharem para Angola sem peneiras na frente dos olhos e que façam mais pelo nosso povo que sofre incessantemente sem necessidade.
Será um encontro memorável por aquilo que se conhece de Dog Murras e do mais-velho Bonga. O que gostaria que os jovens aprendeseem com este encontro?
Este é acima de tudo um encontro e um debate que se faz necessário, porque ambos somos filhos desta terra que utilizamos a nossa arte, a nossa voz e o nosso capital simbólico como bandeira de resistência. O resultado esperado desse encontro é inspirar outros angolanos a fazerem parte de uma corrente do rio que desagua no mar, e não se transformarem naquela gota d´água estática, estagnada num charco. Está na hora de os angolanos perceberem o nosso valor como povo pluriticultural e multiétnico, vamos nos assumir assim, respeitando a nossa maior riqueza, que é o facto de sermos várias etnias que formam um só povo e daí formamos uma só Nação, respeitando os vários grupos e os seus modos diferentes de criar, agir, pensar e viver.
Forjava o lancamento do álbum “Argola de Ouro no Focinho do Porco” e, depois do livro ‘Matematica da Coerência’, prometeu que publicaria um outro livro…
Artísticamente falando, continuo a escrever alguns temas para o meu álbum “Argola de Ouro no Focinho do Porco”, ao mesmo passo que tenho juntado algumas notas para a minha segunda obra literária, “Todos Contra Todos”, onde revelo o meu ponto de vista profundo sobre o quanto perdemos, pelo facto de hoje o angolano ser o maior empecilho para o próprio angolano. Mas, tanto o Cd como o livro estão sem data de lançamento previsto, eu já não coloco data nem pressing sobre o meu trabalho, porque a arte deve surgir da espontaneidade. Agora, como empreendedor e motivador social, estou presente no canal Pensar Angola com Dog Murras e nas redes sociais de Dog Murras Angolano, todos os dias compartilhando experiências e a mostrar para quem quiser, onde está o rio e que é possível cada um de nós pescar e comer o seu peixe sem prejudicar a pesca do “zotro”.