Geração 80. volta a badalar cinema angolano com “A Nossa Senhora da Loja Do Chinês”

Depois do sucesso internacional do Ar Condicionado, a Geração 80. volta a “badalar” o cinema angolano com A Nossa Senhora da Loja Do Chinês. A primeira longa-metragem de Ery Claver é uma metáfora sobre o poder político.

O filme apresenta um enredo centrado nas ruas e espaços urbanos de Luanda e traz desde situações religiosas, sociais, económicas, como é o caso da cooperação China-África, mas tudo percebido por um contexto familiar.

Capaz de mover sensibilidades, A Nossa Senhora da Loja Do Chinês estreia em Junho deste ano e espelha um tempo presenta impregnado num passado não muito distante. Ery Claver, autor e realizador do filme, conversou com a Carga e falou detalhadamente sobre a longa-metragem.

É a sua primeira longa-metragem, como é que foi trazer o espaço urbano e as ruas de Luanda para o cinema?

É a primeira longa que eu dirijo, eu tenho trabalhado muito nas curta-metragens. Já trabalho há alguns anos. Para mim, filmar a cidade é como se fosse um estúdio. É uma coisa a que estou acostumado.

Em que partes e Luanda gravaram o filme?

Inicialmente queríamos fazer o filme todo no Cassequel. Estive há dois anos lá no bairro a fotografar, a pesquisar e a falar com as pessoas. Mas, infelizmente, não conseguíamos. Estávamos à procura de uma casa para fazer as cenas com os actores principais, não encontrámos a tal casa no bairro, então tivemos que ir para o Bairro Popular, saltámos o bairro Popular, Cassequel, Tourada, Baixa de Luanda, Samba e Cidade da China.

Traz uma situação que domina as sociedades africanas. A política e a fé são coisas que acompanham a vida dos angolanos. É uma narrativa vivida?

Acidentalmente sim, mas não de forma directa. Em cada personagem, tirei vários elementos. Não tem uma só personagem. Não consigo ter uma descrição única para cada personagem, para cada facto ou enredo. São várias personagens.

É quase regra contar o que se lê, vive ou vivencia. Que mensagens quis passar na trama?

O jogo que eu quis fazer assim entre aspas é que, quando nós estamos a analisar questões do poder-questões políticas, nos podemos ir buscar numa situação doméstica. Temos todas as camadas do poder dentro de uma casa. Ao invés de abordar uma situação política, eu prefiro abordar essa metáfora dentro de uma casa.

Está a nos dizer que esta metáfora pode ser aplicada ao poder político ou religioso angolanos?

Boa parte da minha intenção é esta, é que se veja assim. Que se faça essa analogia assim.

Por que decidiu transportar esta temática para o cinema?

Eu acho que para mim, mais do que estarmos a discutir política-sobre quem tem razão ou não, o mais importante é percebermos como é que ela funciona. De uma forma ou de outra, nós conseguimos perceber como é que as ligações do poder são feitas. E nós experimentamos isso em pequenos detalhes, em pequenos pormenores. Uma crítica social ou uma crítica, para mim é mais importante que seja assim.

Em que situações podemos aplicar estas abordagens?

São várias situações no filme. Trazemos também a questão da chuva, da Santa, a situação da China em África-como eles estão aqui presentes, mas ao mesmo tempo é uma uni presença. Porque tu não tens uma ligação directa com eles, mas eles estão tão presentes e fazem tão parte do nosso quotidiano. Quase que nos “engolem” de forma impulsiva.

Em que período específico do país se enquadra o tempo da diegese?

O tempo do filme é presente, acompanha a situação do Covid-19. As pessoas usam máscaras, é tempo presente. Mas a metade do filme tem um flashback que eu chamo de prelúdio, que se passa na Tourada e que faz uma citação antes dos acontecimentos do filme, de há 10 anos, mas não é uma data específica.

A Religião e a Política são temas muito sensíveis. Como é que acha que a sociedade poderá absorver A Nossa Senhora da Loja Do Chinês?

Sabendo que estamos a lidar com uma situação muito delicada, sei que vai ferir algumas sensibilidades, mas espero que as pessoas percebam que nós não temos o domínio da ficção, a ficção não é controlada. Se tu matas alguém num filme não te faz um assassino. É apenas uma visão ficcionada, é uma abordagem. Estamos também preocupados com isso, mas esperamos que as pessoas também tenham bom senso.

Que lições aprendeu e gostava de repeti-las nas próximas longa-metragens?

Aprendi é que é possível fazer filme, por mais que as pessoas pensem, claro, é preciso muito dinheiro. É preciso muita preparação. disponibilidade, mas acima de tudo é possível, se tiveres a equipa certa.  

Esperamos algumas nomeações ou prémios, à semelhança do Ar Condicionado.

Nós, inicialmente esperamos que sim.

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