A Bué de Beats produziu e lançou os principais rostos da música angolana. Depois de 20 anos de actividade, decide encerrar as portas. Em entrevista à Carga, Heavy C explica como começou o colapso financeiro e revela que já tentou alienar alguns activos da empresa, mas não teve sucesso.
A Carga soube, através de um comunicado de imprensa, que a Bué de Beats decretou falência financeira. Desde quando é que a empresa comecou a verificar o calapso?
Desde o ano passado, com as mudanças sociais, políticas e económicas.
Qual será o destino dos trabalhadores?
Nesse momento estamos a falar de um número indeterminado de artistas que ficarão sem produção, trabalhadores sem salários e os credores sem lucros, e com dificuldade para devolução de valores.
A produtora está há 20 anos no mercado e já ajudou e produziu várias referências da música nacional. Com que sentimento é que a encerra?
Triste! Não era isso que queríamos para nós, tudo fizemos, tentamos mas foi além daquilo que a gente consegue. Nesse momento estamos só à espera da oficialização do tribunal para encerrarmos por completo.
Não procurou por apoios para que pudesse dar outro destino à produtora?
Demais, mas infelizmente o foco se desviou, a qualidade musical já não está em questão nos dias de hoje, mas sim a objectividade de sucesso.
Neste momento, quanto seria necessário para levantar ou impedir o encerramento da Bué de Beats?
Seria um processo que teríamos de sentar e explanar, mas aproximadamente 40 milhões para voltar a tocar a companhia, sabendo que não existirá ninguém nesse momento interessado por isso, nós decidimos fechar.
Já pensou em alienar algumas activos? Qual foi o resultado?
Tentamos de tudo. Os empresários estão mais interessados em produtos rápidos do que em enriquecimento da cultura musical.
Consegue medir o impacto que esta decisão pode causar à música angolana?
Nesse momento, as pessoas não irão sentir, mas com o passar do teu tempo o enfraquecimento literário, harmónico e discográfico tomará conta, não só pela nossa ausência, mas também porque o interesse musical também se encerrou.
O comunicado diz que não seria apenas a produtora, mas o grupo CF. Pode se explicar melhor?
Existem outros ramos do grupo CF, que estão a nascer sem ter a ver com a música. O entretenimento e música atingiram o seu estado crítico.
Ao longos desses anos de trabalho, qual foi o período em que a produtora viveu momentos gloriosos?
Para lhe ser sincero nunca fomos uma produtora de receber dinheiros para produção. Um caso ou outro excepcional sempre fomos de apostar e acompanhar os nossos produtos, tínhamos como principal patrocinador o Sr. Carlos Furtado, “Heavy C”, que nesse momento já não se encontra a altura para tal investimento.
Caso venha a encerrar, o que a Carga não espera, que recordações que ficam?
Desviamos a rota de produção, contribuímos para o Rap, RnB, Soul, Zoilo, Semba no país; Apostamos em artistas sem qualquer apoio, fizemos a nossa parte. É uma história que se encerra com tristeza, mas que de outra forma não teríamos como.