Depois de abandonar a liga profissional holandesa de basquetebol e desistir do sonho de jogar na NBA, por conta de uma lesão na perna, regressou a Angola e encontrou o mercado fértil. Com o seu laptop e uma máquina fotográfica, Hochi Fu começou a atrair a atenção dos músicos.
O primeiro cliente foi Big Nelo, com qual fechou um contrato de três mil dólares. O acordo valeu mais pelo seu significado porque, depois de receber o cachet e subtrair o dinheiro do aluguer dos equipamentos, encaixou apenas cem dólares. A qualidade do trabalho que prestou, garantiu-lhe contratos com Kalibrados, Djeff Brown, Anselmo etc..
Entretanto, foi com Os Lambas que viria a ser conhecido como um dos maiores promotores da música angolana, particularmente o Kuduro, e com Windeck de Cabo Snoop chegou ao apogeu. Mas, Hochi Fu ainda não se sente realizado. Deseja chegar a Hollywood.
Acompanhe na íntegra a segunda parte da entrevista com um dos maiores promotores da cultura angolana.
Relatou que, de volta ao país, teve dificuldades em encontrar emprego. Nessa época, as novas tecnologias ainda não eram uma realidade em Angola. Como conseguiu ultrapassar os percalços e conseguir chegar até aqui?
Logo que cheguei, tive de ser forte e assumir algo. Disse p’ra mim mesmo eu sou um criador, eu tenho de criar, tenho que fazer qualquer coisa. Não quis, de maneira nenhuma, ficar parado, depender ou deixar sucumbir, tive que me esforçar para atingir o nível que eu quis atingir. Depois tracei planos e disse eu acho que se as pessoas souberem o que eu faço, se calhar não precisarei de nenhuma empresa para me representar, posso me representar sozinho.
Hoje, quem olha para si, vê um homem poderoso, estabilizado. Como foram os seus primeiros dias no mercado ?
O que eu fiz? Comecei com capas, como eu fazia muito os trabalhos gráficos, então escolhi um sítio que os artistas, que era o meu público alvo, passavam sempre. Dei conta que tinha a rádio e a televisão muito próximas uma da outra. Em frente da Rádio Nacional e da TPA havia um restaurante e todos passavam por lá. Então, várias vezes na hora do almoço eu ia para lá com meu laptop, era um Toshiba. Lembro-me muito bem, era a única coisa que eu tinha naquele tempo e uma câmara Sony de fotografar, que nem filmava ainda. Comprava o meu almoço aí e, sempre que visse algum famoso, pedia desculpa e dizia que era o Hochi Fu e estava cá há pouco tempo abria o meu computador e mostrava-lhe alguns trabalhos gráficos e foi assim que fui ganhando alguns clientes.
Ainda se recorda do primeiro cliente?
Um deles foi um amigo de infância, o Big Nelo. Eu fiz a capa do Djeff Brown- Trajectória e a do Big Nelo, que já nem lembro o título. Tanto é que naquele tempo, eu nem tinha estúdio de fotografia, não utilizava estúdio nem luzes nem nada.

Sessão de fotos com artistas famosos na rua é quase impossível. Como é que fazia?
O quê é que eu fazia-combinava com os músicos para que as 15 ou 16 horas fôssemos aí na Fortaleza, como tinha assim os muros altos e brancos, esperava boa posição dos céus, a hora H que é para tirar fotografia, foi assim que eu comecei. Depois do trabalho gráfico do Big e Djeff, todo mundo quis saber quem era aquele chinês Hochi Fu.
E como foi a sua entrada para o mundo dos vídeoclips?
Depois de eu regressar a Angola, o primeiro vídeo que produzi foi “Quem Será” de Big Nelo, que tive um orçamento de três mil dólares, mas que acabei por ficar apenas com cem dólares no bolso, porque tive de pagar tudo, desde o material a pessoas que eu contratei. Não serviu de lucro, apenas amostra do meu trabalho. Aí veio Super Homem, de Anselmo Ralph, Comboio d’Os Lambas, Quem Manda No Teu Block, dos Kalibrados, Tá Calor, de Heavy C…
Em que circunstâncias conheceu Os Lambas?

Eu, por acaso não conhecia Os Lambas. Nós tínhamos um estúdio, que era do meu primo e amigo do Pitágoras, onde nos encontrávamos sempre. Eu falei ao Pitágoras sobre os meus projectos, que era o de agarrar talentos novos do gueto, de procurar talentos e lançá-los e ele disse que conhecia uns miúdos e, se eu estava à procura de 50 Cent de Angola, aqueles gajos eram.
Nesse período, o Rap tinha quase conseguido vencer o estigma, muitas vezes fomentados pelos meios de comunicação social no país, o Kuduro não. Era um estilo marginalizado, associado à delinquência juvenil nas zonas suburbanas. O quê que lhe levou a apostar num estilo “marginalizado”?
Tive o prazer de presenciar o power dos Lambas na venda do disco do dj Zinobia, que eu tinha feito a capa. De repente, vi uma multidão a seguir alguém e perguntei: mas quem é aquele gajo que está aí a levar todo o mundo? Concluí que eram aqueles putos de que o Pitta me tinha contado. Então, disse p’ra mim-vou apostar, vou pôr toda a massa que eu tenho, vou pôr nisso aí. E por caso, pus todo o budget que eu tinha reservado e apostei neles e tivemos enchentes de venda que nunca ninguém contava.
Apostei nos Lambas, porque o Kiduro tinha muito mais a ver com o rap americano do que os próprios rappers daqui. O rap aqui era muito soft, dos betinhos. Mas o Kuduro era dos gajos que vinham mesmo dos guetos.

Levanta uma questão interessante o da identidade. Até que ponto a identidade é importante para um artista que queira singrar?
É importante que o artista crie a sua marca e viva daquilo e faça com que as pessoas procurem por esta marca, procurem se encaixar nisso. Não deve ser o artista a se encaixar na marca dos outros. Por exemplo, n’Os Lambas, eu vi que eles tinham aquele ar de hard boys, de bad boys, eu decidi pegar naquilo, limpar, mas continuar com a mesma coisa. Continuaram a ser hard, a vestir as mesmas coisas. Mas, claro, roupas melhores, cabelos melhores, mais organizados…
É importante sempre estabelecermos um diferencial, porque se o artista não tem marca, torna-se semelhante a qualquer um, uma cobaia apenas, “vai com tudo”.
Quer dizer que foi o responsável pela transformação d’Os Lambas.
Os Lambas eram os Demónios do Sambizanga, que era uma marca que eu como Hochi Fu não quis levar. Não quis levar a fama tipo-esse é o gajo que lançou os Demónios. Eu sou uma pessoa de Deus, uma pessoa que crê, então disse vamos tirar Os Demónios e fica só Os Lambas. E depois vi que Estado Maior do Kuduro é um bom título para o álbum, porque é algo imponente. Nós temos uma marca de poder, de power, de tropa, de general. Temos aí o Nagrelha a forma como se apresenta e eu com roupas militares e carros militar…
Na terceira e última parte da entrevista, o produtor e realizador fala sobre sonhos, prémios, altos e baixos na carreira e faz várias revelações inesperadas.