A música engajada do princípio dos anos 70 beneficiou, em grande medida, do contributo de Artur Nunes e David Zé, basta ouvirmos os temas “Tia”, “Belina”, ‘Kizua Ki ngi fuá”, “Namorada do Conjuto”, “Undege Uami” ou “Mona Ku Jimbe Manheno”, hoje considerados relíquias do cancioneiro angolano.
Não há dúvidas de que Artur Nunes e David Zé foram duas vozes muito à frente do seu tempo. Os músicos e políticos morreram há 44 anos, na sequência das execusões fraccionárias do 27 de Maio.
Esta semana, o governo angolano decidiu entregar às suas famílias certidões de óbito, entretanto, os restos mortais dos artistas estão ainda por se identificar.
Com canções que evidenciam filosofia profunda do provérbio bantu e imagens telúricas de rara beleza espiritual, Artur Nunes e David Zé, ao lado equevo Urbano de Castro, mostraram a riqueza espiritual e rítmica do Semba.
Das várias obras dispersas pelo mundo, já em processo de resgate, há um acervo musical que tem servido hoje para a nova geração como fonte de pesquisa.
“Poeta do Kimbundu”, como era também chamado, Artur Nunes morreu aos 26 anos, deixando 12 projectos musicais, além dos singles “Belina” e “Tia”.
Junto com David Zé e Urbano de Castro estabeleceram a simbióse das raízes da música popular angolana deixada pelos Ngola Rirmos, através de canções de amor, letras que ecoam a morte, desaventura e revoluções políticas.
Em anos de actividade (1972 e 1976), Artur Nunes gravou 12 EPs e mais dois temas para a colectânea Rebita 75. “Tia”, “Belina”, obras-primas, que narram a vida da sua mãe e de sua pretende, respectivamente.