O artista está a desenhar uma nova era para rap alternativo angolano. Sua abordagem foge dos padrões e estereótipos que caracterizam esta vertente específica do Rap.
Sempre quis ser artista, sua carreira começou aos 14 anos. O rapper propõe uma narrativa mais actualizada para o Hip Hop nacional, porque entende que as pessoas de ontem não são as mesmas de hoje.
Recentemente, lançou “O Escrivão Solar”, um projecto que sucede seu álbum de estreia “Prazer, Isis Hembe” e traduz as aspirações mais profundas dos homens a partir das experiências do autor, colocando-o no grupo dos atrevidos do rap game.
Em companhia de amigos, Isis lançou um projecto cívico que visa inspirar a participação das pessoas na vida pública por meio das artes. Denominado “Vosi Yetu”, ‘Todos Nós’, do Umbundu, a iniciativa de “Microfone Aberto Itinerante” promove a liberdade de expressão e direitos humanos e está a devolver o Hip Hop às ruas.

Fale-nos um pouco de si e da sua música. Em que circuntancias decide ser artista?
Foi uma decisão que se deu de forma gradual, uma vez que as artes não são um mercado estável a nível de sustentabilidade financeira, cá em Angola. Eu desde os 14 anos soube que queria ser músico, mas daí até o momento de me munir de consciência e força para contrariar as expectativas foi um processo mais ou menos longo que até hoje se actualiza. Em outras palavras, a cada música, a cada apresentação que toca uma pessoa, vou confirmando que esse é o meu modo de actuar no mundo. Mas, há três anos, as coisas foram se tornando mais tangíveis profissionalmente, com uma série de shows que fiz e o lançamento do álbum “Prazer, Isis Hembe”.
Fruto desse percurso, lançou um álbum e um LP. Como é que resume a sua presença no Hip Hop angolano?
Sou um artista emergente do circuito underground do rap angolano. Que já tem muito tempo disso, mas que só agora está a se tornar conhecido do grande público, de forma orgânica. À medida que vou me explorando como artista, vou vendo muitas possibilidades de me expressar. Isso quer dizer que, sinto que tenho ainda muito a oferecer a nível criativo. Espero concretizar essa expectativa.
Descreve o seu álbum “Prazer, Isis Hembe” como uma obra sem padrão único e que desenha a nova fase do rap alternativo angolano. Porquê diz isso?
Porque, em meu entender, fujo um pouco do estereótipo do mc underground no mercado nacional a nível de exploração de temas e tipo de humores que um artista desse nicho normalmente é catalogado a ter. E, também, represento a tentativa de criar uma narrativa actualizada ao contexto actual. Embora as vivências sejam as mesmas, as pessoas não são as mesmas. Eu me posiciono no lugar dos atrevidos, que tentam traduzir as aspirações profundas das pessoas na actualidade, a partir das minhas próprias aspirações.
Por que razão acha que o rap alterntivo devia observar uma nova narrativa?
Porque devemos honrar os nossos heróis e mestres do underground. Todo o mestre de verdade quer ver que aqueles que inspirou se tornaram em pessoas autónomas o suficiente para fazerem a sua própria caminhada, desde que não se esqueça da história. É importante que alguém se proponha a descobrir mais caminhos.
Na última semana, fez sucesso nas redes sociais com a apresentação ao vivo do tema ‘Harakiri’. O que lhe motivou fazer aquela apresentação com banda e ao ar livre?
A apresentação ao vivo faz parte de um projecto cívico para inspirar a participação das pessoas na vida pública por meio das artes. O projecto chama-se “Vosi Yetu”, que é uma expressão em Umbundu que quer dizer ‘Todos Nós’. Naquele ambiente que nós chamamos ‘Bungula Session’, queremos nos apropriar da nossa cidade e promover a liberdade de expressão e direitos humanos, nas comunidades. Eu não estou lá sozinho. Existe a banda “Vosi Yetu” e o actor Cláudio Kimahenda, sem falar dos artistas de cada localidade que se decidem juntar a nós. A modalidade do evento é um “Microfone Aberto Itinerante”. Qualquer artista que quiser participar de um evento específico, basta ficar atento ao perfil ‘eufaradai’ no Instagram
Acha que é esta a via que o Hip Hop deveria ser levado às pessoas hoje em dia?
Eu não acredito em fórmulas universais. Mas o Hip Hop é, historicamente, uma cultura de rua. É lá onde está a força e alma dessa cultura.
É uma forma de devolver o Hip Hop às ruas…
As manifestações artísticas da cultura Hip Hop começaram nas ruas. Grafiteiros, b-boys e b-girls, mcs e djs ocuparam as ruas para que pudessem passar a sua criatividade. O Hip Hop é o que é por causa disso: comunicar com as comunidades e se deixar actualizar por elas. Então, qual lugar melhor que a rua para interagir com as pessoas?
Em que está a trabalhar neste momento e quando pretende tornar públicos seus novos projectos?
Acabei de participar em álbuns de muitos artistas, inclusive, internacionais. Não sei quando vão sair as coisas, mas logo verão meu nome em muitos projectos por aí. O meu mais recente projecto, O Escrivão Solar, é de Maio desse ano. Embora vivamos numa era que as coisas expiram rápido, sinto que ainda tem muita vitalidade, por isso, pretendo explorá-lo mais. No entanto, vou lancar três singles de surpresa a qualquer momento.
Que experiências boas ou más terá vivido ao longo da carreira que hoje lhe servem de motivação?
Eu acredito que as experiências podem ser ressignificadas. Por exemplo, já fui muitas vezes impedido de expor o meu talento em algumas plataformas ou por questões financeiras ou por ser desconhecido. Isso poderia ser uma experiência má, se não me fizesse acreditar, posteriormente, que o que tenho serve para fazer o necessário. Nesse caso, falo da inspiração e criatividade. Trabalhei com os meios que tenho e hoje estou aqui a dar entrevista na Carga. Não quer dizer que tenha escalado grande coisa, mas tou muito confortável com o resultado que tenho alcançado nessa caminhada. Então, as experiências não são necessariamente boas ou más. Eu tento ressignificar o que me acontece em favor de mais criatividade e motivação.
Quem é Isis Hembe fora da música?
Essa é a pergunta mais difícil. Eu me vejo como uma pessoa de fácil trato, que ri muito fácil e um grande piadista. Tou sempre a falar lixo