No Rap há 20 anos, o MC está a preparar o lançamento do seu primeiro disco, uma obra interventiva e afro-centrada, que traz participações de Kid MC, Kool Klever, Ndaka Yo Wini, Loromance, Mono Stereo e a poetisa Sankofa. O álbum será autografado já este sábado, no Elinga Teatro, em Luanda.
Kamesu Voz Seca não é um nome novo no Hip Hop, aliás, é dos mais antigos rappers angolanos. Começou a actividade artística em 1998, no famoso período de ouro da cultura Hip Hop no país, e agora vai colocar o primeiro álbum no mercado, um disco que intitulou como Kontra Ofensiva, por causa das suas mensagens e será comercializado a partir das 8 horas no Elinga Teatro, na Baixa de Luanda. E conta com trezentas cópias simbólicas.
O músico teve que permanecer no estúdio por mais de duas décadas, porque precisava analisar e descrever com precisão os problemas políticos, económicos, sociais, históricos e culturais do país e de África, contudo, sublinha-se, Kontra Ofensiva é apenas o seu primeiro projecto a solo, porque Kamesu já colaborou para a Coletânea-Filhos da Resistência, Coletânea Linhas de Comunicação e EP Sankofa.
Desde que é conhecido, assume-se como um verdadeiro griot (mestre da literatura oral) e compilou, em Kontra Ofensiva, acervo de informações que constituem um pensamento, uma reflexão, uma atitude de militância em prol do bem comum e defende que só é MC aquele que retrata os problemas da comunidade.

Em que aspectos considera ter evoluído mais neste álbum se comparado com os projectos anteriores?
Na verdade, em termos de escrita, comecei este álbum há cerca de dez anos. Eu tive é que fazer um périplo pelas partículas do tempo, onde fui estudando situações relacionadas a conjuntura político-social, económica, cultural e histórica. As minhas letras foram escritas para poderem resistir o tempo, num período mínimo de pelo menos 20 anos.
Acho ter evoluído essencialmente na perspectiva da interpretação. A questão das técnicas associadas ao droping foram melhorando. Eu acho ser isso a grande evolução em relação aos trabalhos anteriores.
Que mensagens quis passar ao reunir Sankova e artistas como Ndaka Yo Wini?
Trago Sankofa (Spoken Word); Mukonda Leal (refrão); Winnie Neto (refrão); Loromance (refrão); Kluadiu Bantu (Spoken Word); Kid MC; Kool Klever; DJ Mamen; Ndaka Yo Wini (refrão); Norme Queen (Cubana); Denéxl; DJ Nel Assassin (Portugal); Mono Stereo; Samantha Clemente (refrão); Aluno Mestre e Hostil e como produtores temos DH; Kamesu; Levell Khroniko; Vars; Marcial Hidhrolliczx; Gueira Lindo; Skit Van Darken e Palavra Basta.
Existe uma grande proximidade, aliás, a própria música Rap, em termos de interpretação, é filha do spoken word. Este álbum é, na essência, muito voltado à perspecriva afro-centrada. Trago a Sankofa para fazer um recuo e dar aqui o conhecimento da essência relacionada ao Rap.
O Ndaka e outros artistas foi sempre na intenção de cada um deles trazer o que se precisava em cada música. Quando trago Ndaka, é para representar a essência. É como se fosse um griot à volta da fogueia a falar sobre valores.
Hoje por hoje lançaram álbuns físicos é quase recuar no tempo. Por que razão optou por esta via?
É essencialmente por se tratar da minha primeira obra de originais. Por outra, em Angola a questão do digital ainda não é muito próxima às nossas comunidades. E porque também a rede de acesso a comunicação não tem, em grande escala, a massa de que a nossa mensagem é alvo. Mas também vou fazer o lançamento nas várias plataformas digitais, mas por enquanto tenho de escoar o físico.
Levantou uma questão importante: a da afirmação da identidade através do rap. Qual devia ser o papel do rapper actualmente?
Perguntou o rapper, mas eu vou responder o MC. Em termos de definições, rapper é um artista voltado a perspectiva muito comerciais, ou seja, é um artista mais de estúdio e que não tem muito ou quase nenhum compromisso com a cultura. Ele faz porque tem, em certas medidas, interesses muitos particulares, ou até do grupo. Mas não há uma grande ligação com a cultura e, sobretudo, com a sua ancestralidade.
Já o MC é o individuo, o elemento que canta música Rap. Este individuo é detentor do conhecimento e domina vários elementos da cultura, sobretudo o street knowledge, através dele, consegue tomar uma postura de conservação e salvaguarda dos padrões pelo qual a cultura foi concebida ou definida.
O MC é um artista e, sendo artista, é um agente social com grandes responsabilidades. Nós, MC, temos de perceber que enquanto MC já somos, em perspectiva, a representação dos mestres da oratura. Somos griots modernos e griots contam estórias, têm preocupação com a comunidade; são responsáveis por manter os níveis de valores «da sociedade».