Keita Mayanda é um nome de consenso na música angolana, em particular no Rap. O músico tem um novo álbum. Intitula-se “7 Momentos De Lucidez” e vai sair já no próximo mês. Uma obra em que apresenta suas experiências e reflexões sobre a sociedade e a existência humana.
Contém 10 faixas musicais e, além da via digital, contará também com edições físicas, incluindo em vinil. Para quem ouviu o Homem e o Artista, poderá encontrar no 7 Momentos de Lucidez a continuidade de um artista preocupado com a existência e a experiência humanas.
O novo álbum de Keita Mayanda integra um catálogo onde se encontram, entre outros, Ngonguenhação – Conjunto Ngonguenha (2004), O Homem e o Artista (2006), Nós Os do Conjunto – Conjunto Ngonguenha e Despertar em Momentos de Incerteza (2017). Em entrevista à Carga, o rapper descreveu a obra da seguinte maneira:
De que álbum se trata e que dia será lançado?
É um álbum chamado “7 Momentos de Lucidez”. Com 10 faixas musicais e traz participações dos meus colaboradores mais frequentes, falo de Kennedy Ribeiro (produção), Leonardo Wawuti (produção e parte vocal), Verbal Uzula (produção e parte vocal), Damani Van Dunem e CFKappa. Além de Kennedy, Leonardo e Verbal, como produtores, tenho Elzo Sénior, Oswaldo Davis e Mad SuperStar.
Porquê ” 7 Momentos de Lucidez”?
Eu acho que a pergunta não faz sentido. É como se perguntar porquê que eu dei o nome que eu dei à minha filha. Isso é mais difícil e complicado de explicar, porque o título de um álbum nem sempre é uma coisa óbvia para todo o mundo. Eu não tenho como dar uma resposta à pergunta porquê 7 Momentos de Lucidez. Não é algo que eu consiga explicar. Eu não dou um título simples… a forma como eu intitulo as minhas músicas e os meus discos é sempre um esquema um bocado mais complexo. Acho que a melhor forma de as pessoas entenderem é ouvirem o disco.

Não precisou a data do lançamento. Consegue dizer como é que o público poderá adquiri-lo?
Só posso lhe dizer que está para muito breve. Nas primeiras semanas de Dezembro, com certeza. Estou à espera para receber o master ao longo da semana, só depois disso é que eu posso dizer uma data. Na semana do lançamento, o álbum estará disponível única e exclusivamente na Soba e nas semanas a seguir vai a outras plataformas de streaming e de venda de músicas.
É perceptível nas suas composições o culto à espiritualidade e a busca pela essência do homem. Que mensagem concreta procurou transmitir nessa obra?
Não existe uma mensagem central no disco. Existem várias ideias que depois congregam. Porque são, na verdade, momentos de reflexão. Eu sou o tipo de artista que gosta de reflectir, sobretudo, a sua visão muito particular. Não só da sociedade, mas da existência humana. Esses são os temas que mais me preocupam, que mais me interessam: tirar cá fora as minhas experiências, os meus pensamentos. Os meus próprios problemas, as minhas batalhas internas e pessoais.
O disco trata de assuntos como superação humana; liberdade financeira de um artista; amor e o sexo. Assuntos como o valor de uma boa amizade e no reverso. Quando se chega a uma a certa idade, quando se atinge um certo nível de experiência e sucesso na vida, mesmo sem grande experiência e sucesso, qualquer um de nós pode experimentar relações más, relações de amizade que não são boas e que são extremamente perversa. No conjunto, o álbum tem temas variados, mas eles depois têm todo um ponto em comum. O ponto comum, na verdade, é o individuo, eu, no caso, a reflectir sobre vários assuntos, que são experiências que eu vivi nos últimos dez anos e que estão aí congregadas. O disco não é uma reacção, algo exterior a mim. As minhas músicas são, na maior parte das vezes, o fim de uma reflexão sobre as minhas experiências.
Há quanto tempo vem a trabalhar no álbum? Será uma espécie de “prenda de natal”?
Comecei, não a trabalhar no álbum mas a gravar, em Outubro. Não há nenhuma razão especial para apresentar em Dezembro. Não é como uma prenda de natal, seja lá o que for. É simplesmente porque um álbum é um trabalho que tem o seu próprio tempo. Gostaria de tê-lo lançado em Novembro, mas já estamos na última semana.
Nos últimos anos tem surgido uma grande corrente de Trap…o Boom Bap é o que mais ouvimos. Em que aspectos o seu novo álbum absorveu essas tendências?
Você está enganado! O Boom Bap não é a vertente que você mais tem ouvido. O Boom Bap é, na verdade, o género original do Rap. Portanto, Boom Bap é o que podemos chamar o Rap da era dourada e é o que eu faço. Agora se quer saber se eu estou a fazer Trap no meu disco, não. Não estou. Eu não ouço Trap. Nem angolanos nem americanos, nem seja lá de que parte do mundo forem. Eu prefiro o Rap Clássico. Ou é o clásico-o típico Rap dos anos 90 ou é o clássico-o típico Rap do início da década de 2000 influenciado pelo movimento da New Soul, ou não é. Para mim, em termos de sonoridade, aquilo que eu procuro no Rap é Boom Bap e Soul Full Rap. Qualquer coisa que esteja fora disso, a mim não interessa.
É do tipo de artista um tanto quanto “conservador” e, actualmente, é quase fora da moda fazerem-se tiragens físicas. Como é que está a acautelar esse lado?
Inicialmente o álbum vai sair em formato digital. Mas eu não quero só fazer dessa forma. Quero fazer da forma tradicional, da forma como eu acho que um trabalho meu deve vir cá fora em forma físico. Eu penso em fazer CD, penso em fazer vinil, também, uma edição limitada em vinil. Não só deste disco, mas de pelo menos mais dois que eu já lancei.
Diferente do que se previa, 2020 está a ser um ano muito produtivo para o movimento. Como caracteriza o actual momento do rap no país?
Ao contrário do que algumas pessoas pensam, o Rap está de saúde. Porque tem saído muito boa música. Esse ano, pelo menos, há dois discos em que eu participei, se não estou enganado. Há muita música rap lançada este ano, lançada no ano passado ou no ano anterior. Que eu acho é que há uma enorme distração e preguiça da parte daquelas pessoas que dizem que gostam de rap angolano. Tem estado muita agente a trabalhar e a lançar. Praticamente a cada duas semanas há uma coisa nova lançada na Internet. Não há escassez de música. Para mim, eu acho que foi um ano extremamente positivo.