Luso está no Hip Hop desde os seus 15 anos. Tem um álbum e um EP lançados e está a concluir o segundo álbum. Além disso, o músico desenvolve o projecto “Ilusionista”. Esta semana disponibilizou um novo vídeo clípe e agendou vários outros lançamentos.Nostálgico, o rapper lembra à Carga sobre o início da carreira e fala sobre como está a lidar com o desmembramento da Cave Play, e deixa algumas impressões sobre o Hip Hip angolano.
Como é que decide levar a carreira profissional?
Decido cantar profissionalmente após a morte do meu irmão, o Vitó, ele foi uma das pessoas que mais me influenciou a cantar quando eu tinha apenas 14 ou 15 anos. De regresso a Angola, em 2010, parei de cantar porque não tinha um emprego fixo e os custos de gravação eram muito elevados.
E retoma as actividades com o álbum Lusolândia em 2019.
Na verdade, retomo a actividade em 2018 com a mix tape 255 Quadro 82, uma homenagem ao meu irmão. O álbum Lusolândia surge como o segundo projecto e primeiro álbum em formato digital em 2019. Ambos saíram com o selo da Cave Play. No álbum “Lusolândia”, o tema esteve centrado na corrupção e as principais faixas assim o demonstram, enquanto na mix tape “255 Quadro 82”, os temas foram mais virados ao passamento físico de pessoas que em vida nos foram próximas.
Após o primeiro álbum surgiram vários outros projectos, como é que se procedeu isso?
Com o lançar das obras que fui disponibilizando fui conquistando algum espaço no mundo do Rap nacional, o KID deu-me abertura para alguns canais televisivos e radiofónicos. Felizmente, tenho uma capacidade de criação muito fértil e tento trazer um projecto diferente ano após ano.
Em que consiste o projecto Ilusionista?
Ao Projecto Ilusionista não chamo de álbum, porque não tem as características de um álbum nem de mixtape, porque as faixas não estão mixadas entre si, dei-lhe o nome de projecto porque tem o princípio de serem lançadas faixas mensal ou quinzenalmente até se totalizarem 10 músicas. Neste momento, conta já com 8 faixas, maior parte delas centradas em demonstração de skills, métricas e habilidades únicas de encaixe no beat.
Há três dias lançou um novo vídeo clípe. Como agendou outros lançamentos?
Os próximos vídeos serão das faixas “Vitó Style” e “Refrões da Minha Vida”. Com certeza um sai este mês e outro sai no final de Agosto, todos com o selo da minha produtora Colírios Studios, tal como foi o anterior. Comecei já também a preparar o meu próximo álbum intitulado “Laços de Família”. 80% das faixas já estão escritas e desenhadas, todas inéditas.
Que temas vai explorar no novo álbum?
Temas relacionados com o desenvolvimento social e pessoal. O meu maior ídolo no Rap chama-se Chullage e quando comecei a cantar vi-o várias vezes ser activista nas músicas e no seu dia-a-dia, hoje tento ser um espelho do professor que ele foi para mim mesmo sem ter me dado aulas directamente.
A actual situação político-económica deixa pouca margem de manobra para os rappers underground. Por que acha que isso tem acontecido?
Tal como frisado no ponto anterior, para mim o activismo social não deve passar só pelo relatar de factos ou erros de certos políticos, existe uma gama de temas que podem ser debatidos e trazidos à música, infelizmente a nossa parte defensora de direitos através da música foca-se mais nos erros do governo e pouco na edução mental de quem nos ouve, talvez este seja o nosso calcanhar de Aquiles.
Qual é sua opinião sobre o estado actual do Rap Underground no país ?
Sou amante de rap under, mas infelizmente os temas andam muito centrados no político e não na política e assim acabam por depender das acções do político para poder fazer música, claro que não devemos generalizar porque existe muitos bons rappers nesta vertente que não se centram apenas em relatar os factos e acontecimentos que os políticos lhes têm apresentado.
Agora que a Cave Play fechou, que produtora aceitaria assinar sem olhar atrás ?
Sim infelizmente a Cave Play fechou a parte agenciamento de artistas e direcionou o foco na produção de vídeos. Aceitaria qualquer uma que me desse mais estabilidade do que a que consegui criar com fundos próprios, patrocínios são bem vindos e trabalhar em equipa sempre nos torna mais fortes.
Tem alguns prémios na galeria. Até que ponto isso lhe é importante?
Na verdade tenho prémios conseguidos bem lá no princípio da cena da música, mas isso em mim pouco influencia. Prémios sim são bem vindos e gratificam o nosso esforço, mas não são o foco principal, se o fossem há muito que teria mudado as minhas abordagens.
Quando é que se vai sentir no auge da carreira?
Quando um dos meus ouvintes me disser que a vida dele se tornou melhor depois de seguir os ensinamentos que lhe fui passando nas músicas.
Ao longo desses anos de carreira, o que de mais importante e marcante aconteceu ?
Ter conhecido o Kid Mc na primeira pessoa e saber que esse encontro foi possível depois de ele ter ouvido a minha música “Prenda Para Vocês”.
Que Luso os fãs pode esperar daqui para frente?
No meu próximo álbum encontrarão um Luso bem melhor que o Luso dos projectos anteriores, por enquanto fica em segredo mas aguardem por mim quando eu chegar com os meus “Laços de Família”.