No clipe, Paulo Flores memora uma fase da sua infância, caracteriza-se como o “requisitado discotequeiro, Cabé” e relembra durante a storytelling a origem do seu amor pelo Semba. O novo material é correspondente à música `Semba original´ feita em homenagem a Carlos Burity e Waldemar Bastos -In Memoriam-.
Como tem sido da praxe, Ti Paulito usou as suas redes sociais para colocar os seus seguidores a par de mais um trabalho. O músico partilhou detalhes inéditos do videoclip que sucede ‘Heróis da foto’: a ficha técnica traz Sérgio Afonso na direcção, Filipe Drehmer na direcção de fotografia e na luz André Rijo.
Por meio dos vastos agradecimentos que estendeu-se à família e amigos, ficamos a saber que o músico foi interpretado no vídeo por Gabriel e que dentre vários familiares e amigos, fizeram ainda parte do elenco, o seu neto William e a Força Suprema.
“Obrigado a todos que fizeram parte deste dia, que foi um forte reviver de emoções, saí de coração leve. Obrigado à família protecção e amizade e recepção de sempre. Obrigado por abrirem a herdade da Muxima para recriar a minha infância e todos os ensinamentos do Semba e da vida.”, agradeceu.
De pai Cabé, um incontornável ícone da animação musical nocturna de Luanda, Paulo Flores herdou toda vivência artística, que hoje se imprimem na sua hegemonia. O vídeo gravado no passado sábado, tem como “pano de fundo”, esta passagem de testemunho de pai para filho, centrando-se numas “férias grandes em Luanda”, cuja história completa foi por si partilhada e pode ler abaixo:
“O mui requisitado discotequeiro Cabé, meu pai, me deixou numa festa no terraço dos persistentes em Luanda, para ir tocar algum tempo noutra festa, ele deixou-me um Deck leitor com duas cassetes e disse: “Paulinho quando esta cassete acabar, carregas no Play, que sabes que é aqui e começa a tocar a outra cassete com as músicas que eu já mixei “ , mas eu como gostava muito da música “ joaninha namorada “ que estava na cassete que entretanto acabara de tocar, carreguei no Play quando acabou a primeira cassete e correu tudo bem no início, mas fiquei sempre com aquela vontade de ouvir a música que estava na primeira cassete , comecei a puxar para trás a cassete para procurar a tal da “ Joaninha namorada “, a fita enrolou, ouviu-se mesmo o som da fita a enrolar nas colunas… depois só me lembro do meu pai entrar a correr e a transpirar na cabine e puxar de novo a farra. Foi a minha primeira humilhação pública. Quando o meu pai perguntou “ mas então o que aconteceu, não puseste no Play ?? – oh pai eu queria ouvir outra vez o Joaninha namorada “ , ainda me lembro da gargalhada do velho
“ o Semba falou-me então, dos tempos que já lá vão , aí quanta saudade , ao tanta certeza , hoje é só tristeza , no tempo dos bodas de três dias . Eu dormia por baixo da mesa, no tempo dos bodas de três dias eu dormia por baixo da mesa O Semba fez cara feia , de novo me avisou , dos sons dos chinelos na areia, nos quintais que o pai tocou “.
A música `Semba Original´ que começou a ser composta muito antes da notícia sobre os passamentos físicos de Waldemar Bastos e Carlos Burity, já fazia parte do alinhamento do álbum “Independência”, com lançamento previsto para Abril de 2021.
A canção, nasceu de pequenos pedaços de músicas das figuras ancestrais do Semba, misturadas de histórias profundas e foi feita para celebrar a vida e a obra de Waldemar Bastos e Carlos Burity, Semba Original não é uma canção de tristeza, é de choro, sublinha o autor, mas choro que dança em homenagem aos dois artistas falecidos em 2020 por doença.