Máscara Mwana Pwo exibida num filme de Hollywood. Afinal, ela pertence a Angola ou RDC?

Mwana Pwo simboliza a beleza e a figura da mulher, encarnando a ancestralidade feminina dos lundas-cokwe, e está a ser exibida num filme de Hollywood, transparecendo que a mesma pertence à tribo vizinha dos mbangani, da República Democrática do Congo.

À semelhança do que acontece na grande maioria dos povos de origem bantu, as máscaras constituem objecto de evocação e realização das acções dos antepassados entre os homens, estando o seu surgimento associado a motivações de ordem sócio-religiosa, mais concretamente, ao culto dos ancestrais.

Presente nas principais manifestações culturais e rituais de iniciação masculina, como a mukanda (circuncisão) e danças tradicionais, Mwana Pwo é feita em madeira esculpida. Nalguns casos, pode ser feita de resina (raras vezes) e é usada por homens, mas simbolizando o poder da mulher e o papel que ela exerce: educar, proteger e guiar os membros da sociedade Cokwe.

O rosto, sabiamente escarificado (com pequenos cortes) por um mestre dentro dos padrões estéticos da escultura Cokwe, é sempre a revitação do rosto da mulher por ele eleito, dada a sua beleza. Nesses rostos, o escultor inscreve uma complexa representação de significados e simbolismo ligados à fecundidade, ao género e ao cosmos. No nariz o traço kacongo, sob os olhos e lágrimas ou masoxi. Nas faces as marcas circulares lumba. No queixo a tatuagem mipila e na testa o motivo cruciforme que a distingue, o cingelengele.

Estes e outros significaddos são exaltaddos pela indústria de cinema mundial, através de uma longa-metragem, mas com um dos personagens a mencionar que Mwana Pwo pertence aos mbangani, povo do território vizinho, RDC.

Bibliografa-se também, no entanto, que o grupo etno-linguístico (Cokwe), há muito fixado na zona nordeste de Angola, espalhou-se pelos territórios vizinhos da Zâmbia e da RDC. Portanto, Mwana Pwo não se reduz apenas num simples instrumento material, e mascarar-se não significa um mero disfarce.

O termo mukixi (pl. akixi) com que se designa o mascarado é simultaneamente utilizado para referir-se ao espírito do antepassado representado por cada máscara.