Por ser dos mais antigos membros da Força Suprema, os lançamentos musicais de Masta acabam sempre por despertar a atenção do público, tanto por desenhar a desejada mudança na forma como os músicos angolanos viriam a ser tratados no país e no mundo, ou por construir um indelével acervo musical.
O rapper tem música nova, o tema intitula-se “Rebobina” e estreia amanhã no Afro Music Channel e, horas depois, estará disponível no seu canal do YouTube.
Em conversa com a Carga hoje, o músico apresentou as características da faixa, falou dos seus projectos a solo, incluindo da actual produtora e “abriu-se” sobre o próximo álbum e a ligação à Força Suprema.
Em “Betoneira” Masta apresenta uma mensagem incentivadora e ao mesmo tempo uma chamada de atenção à sociedade. Que discurso específico traz neste seu novo tema?
Como o próprio refrão diz, Betoneira é um apelo à mudança, com a advertência máxima de que a governação começa dentro de nós, não é apenas trabalho do governo; começa na nossa casa no nosso bairro, depois sim, podemos apelar para o resto, que certamente depende de todos nós só assim conseguiremos um governo mais justo, uma Angola para todos. A minha mãe morreu no hospital do Prenda em 2018, não foi apenas pelo estado de saúde que ela se encontrava, foi muito pela má governação do nosso país dos nossos hospitais sem condições, sem meios para poder salvar vidas, processo quem? A equipa que estava de serviço nessa noite ou o Ministério da Saúde? So Deus ya! As clínicas privadas são um exagero em termos financeiros que parece mais um lugar para depósitos milionários do que propriamente para nos curar, o lixo que só aumenta, entre muitas outras coisas básicas que terá mesmo de existir mudança, caso contrário vamos ter de morrer a tentar.
Quais são as caracteristicas desta nova faixa?
Na faixa, eu meti muito daquilo que são as minhas características, no que toca ao liricismo pesado misturado sempre com a verdade, mas com a finalidade de mostar consistência em tudo que meto a mão independentemente do tempo. O @thelokz (Lokz) trouxe o melhor instrumental de 2021 até à data. O Deezy, depois de ouvir os versos, ficou maluco e auto convidou-se para fazer o refrão, eu aceitei porque já não tinha nada a dizer no instrumental, e porque o miúdo é mesmo fogo, houve um envolvimento muito grande de todos nós nessa faixa.
As entradas de Lokz e Deezy no tema leva-nos a pensar que projectam algo maior no futuro. O que seria preciso para que isso viesse a acontecer?
“Rebobina” é uma faixa que nasceu no final do ano 2020, quando o @thelokz (Lokz) aterrou de Londres para Linha de Sintra (Portugal), voltou a me dar o toque para a gente fazer algo, eu já gostava dos instrumentais dele, “apimentamos” mais as ideias e nos trancámos. O mais certo é terminar em um projecto, ainda sem data de lançamento, já pensei em alguns nomes para o mesmo, mas sem muito a adiantar ainda. Mas, certamente para muito breve.
No ano passado quase que não foi possível se executarem projectos. Que trabalhos encravados no ano passado pretende lançar este ano?
2020 foi um ano muito difícil para o mundo inteiro pelos motivos que todos nós sabemos, Os meus planos são a vida, tudo o resto são apenas condimentos que vou metendo para poder chegar onde quero, isso para dizer que em 2020 não planeei muita coisa no que toca a @Moaentretenimento (música). Trabalhei mais em áreas fora da música, abri algumas pequenas grandes empresas como a @1Mhu1lMove , @1MhuM1Sport , @1MhuM1Clothes , que numa outra oportunidade posso aprofundar mais, e tive uma experiência constrangedora no início para mim, mas como homem maduro e visionário que sou, não tive problemas em exercer, foi um part-time que fiz, para poder ajudar no andamento do meu processo de aquisição da nacionalidade portuguesa e que graças a Deus e à minha advogada consegui, o que estou a meter fora esse ano esta a ser cozinhado esse ano também, a cozinha não pára.
Que influências a pandemia exerceu na sua criação artística?
Para mim, o maior susto foi saber que temos mais um inimigo mas dessa vez invisível e que provavelmente só é combatido de forma vacinal, jogo sujo dos governos, formas de matarem o privado e encherem mais os seus bolsos, mas ainda assim essa pandemia levou-me a novos desafios, conheci pessoas novas que muito adicionaram para o CEO que hoje sou e certamente cresci mais como artista e a maior prova disso são os novos trabalhos que tenho estado a meter fora.
Depois de “Dona Teresa” que álbum tem preparado?
Depois de “Dona Tereza”, o melhor álbum solo de 2019, (risos), a vida seguiu tenho na cabeça o meu próximo álbum solo, fiz inúmeras participações que devem estar para sair no decorrer deste ano, espero também podermos pegar no próximo álbum da Força Suprema, tudo o resto Deus trará.
Pelo nome que construiu, parece ter já cumprido o seu papel na música. Daqui para frente, o que passará a caracterizar a carreira de Masta?
Sim são muitos anos nesse jogo, nessa luta nesse mambo que chamamos de Hip Hop / Rap, que salva vidas e, sem dúvidas, salvou a minha. Eu acho que o que caracteriza a minha carreira musical é a superação a auto-motivação, a motivação e certeza de vitória é isso que vou buscar quando crio e é o mesmo que tento entregar a quem me ouve de verdade.
À medida que vão saindo temas novos, tanto da FS quanto do Masta, vai ficando cada vez mais claro de que da FS apenas ficam as lembranças. Masta, continua ou não integrar a Força Suprema?
Eu nunca fui artista da Dope Muzik, tecnicamente falando. Sempre tive o meu selo solo desde muito cedo, se fores pesquisar o meu trabalho “3 Bandeiras” saiu com um selo meu também na altura chamado Make Money Music, (2014), depois voltei em 2018 com a MOAEntretenimento. A Dope Muzik sempre foi cortesia por ser dos meus rapazes Nga, Don g, Prodígio e, como membro/fundador do grupo Força Suprema, automaticamente carrego a Dope comigo também. Eu faço os meus descontos através da MoaEntretenimento e não pela Dope, logo dá para perceber que é algo que carrego comigo, mas não dá para estampar em tudo que é capa, porque não funciona assim profissionalmente.
Quer explicar melhor?
As pessoas continuam a misturar. A Dope Muzik, a Força Suprema e os Dope Boyz são coisas totalmente diferentes, apesar de passar pelas mesmas pessoas. A Dope Muzik é uma Label, a Força Suprema é um Gang/estilo de vida e Dope Boyz é quando o Prodígio decidi se juntar com outros putos dele. Nós não somos um grupo, somos um gang. Grupos acabam, gangs lutam, se matam, mas é 4Life. FS4LIFE, SNGang 1MhuM1Gang.
Isto significa que, doravante, veremos os trabalhos de Masta a saírem pela Moa Entertainment, a sua nova produtora?
Daqui para frente os meus trabalhos sairão com selo próprio MOAEntretenimento e com possíveis parcerias, caso faça sentido e isso incluí a Dope Muzik também. Sim é a minha produtora é o meu selo.
Durante mais de duas década, construiu um importante acervo fonográfico e é referência para a nova geração. Além desses registos , de que forma queria que o seu legado se perpetuasse?
Realmente. A quantidade é grande e em qualidade também. A música é uma coisa dos nossos antepassados, que rege muito a mim, que me acalma. Eu respiro música e quis passar o meu sentimento para toda gente que me ouve para que pudessem gostar também, de certa forma, ela vai se perpetuando também. A música tem esse poder, mas eu gostaria muito de ver ruas no país onde nasci com o nome do meu Gang “Força Suprema” e com os nomes individuais também, nós fomos responsáveis pela mudança crucial na forma como os músicos Angolanos são tratados hoje, e por uma enorme geração. Acho que merecemos isso.
Atravessou uma das piores fases da sua vida em 2018, se tivesse que corrigir algo na sua carreira musical o quê corrigiria e porquê?
Sim, 2018 foi um ano muito difícil para mim, porém também decisivo em muita coisa que eu pensava que estivesse certo mas não. Não tenho muito para corrigir na minha carreira, talvez não na minha, mas na de todos nós-a inserção dos direitos autorais de todo artista do meu tempo (principalmente os independentes porque pouco ou nada sabíamos sobre isso) e para essa nova geração também abram os olhos, tudo o resto só depende mesmo de cada artista e das suas vontades, só não se esqueçam que para um homem (artista) vencer na vida precisa apenas de meter em prática dos seus 100% de talento 20% , e os outros 80% é de trabalho árduo é assim na vida real.