Além de formação sobre cultura jurídica aos reclusos, o rapper levará uma série de espectáculos, palestras e vai também fomentar a cultura do livro, com criação de salas de leitura nos 40 estabelecimentos prisionais do país.
O projecto chama-se livrar cadeias para pacificar as ruas e nasceu há 9 anos no Elinga Teatro, quando protagonizou o show do livro com Bruno M, onde, ao invés de dinheiro, o público acedia mediante doações de livro.
Uma iniciativa que nasceu com o Rap e Kuduro e ganha cada vez mais força com o centro de estudos UFOLO. Arranca esta segunda-feira (18) com diagnóstico aos estabelecimentos prisionais de Luanda e, mais tarde, seguem-se o Bengo, Kwanza Norte, Malanje, Lundas Norte e Sul, incluindo Benguela. O que se pretende é combater a criminalidade, focando-se nas causas.
Em breve entrevista à Carga, MCK apresentou o «seu» projecto cívico baseado na lógica invertida em observância às Regras de Nelson Mandela e que prevê ainda a elaboração de manuais de formação de direitos humanos e prémios.

Como é que pretendem actuar?
Pensamos em trabalhar dentro da cadeia para que, quem saia de lá, saia com alguma formação. Fazem-se muitas políticas de combate ao crime fora da cadeia, mas na prática isso não funciona. Temos um nível de reincidência muito forte. As pessoas que cometem crime voltam a cometer porque são inseridas no mesmo meio que as levou a delinquir.
Quer dizer que vão dar palestras à população penal?
Não só palestras, porque nós temos objectivos. Em termos de objectivos gerais, vamos fazer várias actividades dentro da cadeia; vamos fazer concertos, palestras, doar livros etc. O objectivo é fazer com que cada um dos 40 estabelecimentos prisionais tenha uma biblioteca de referência.
Queremos ainda fazer um gabinete de atendimento que vai velar por aquelas questões dos direitos humanos dentro da cadeia ou as de excesso de prisão preventiva, criando apoio jurídico para pessoas que estão numa situação de abandono ou cujos familiares não têm advogados, de tal sorte que, também consigamos fazer formações periódicas aos próprios agentes prisionais.
Que outros músicos estão envolvidos no projecto?
A Ufolo enquanto centro de estudo somos nós, eu, Rafael Marques, o investigador Paulo Faria e o Rui Verde, que escreve a partir da Inglaterra. Todavia, de evento a evento, nós convidamos um ou outro artista. Dos que têm trabalhado connosco com alguma regularidade estão a Renata Torres, Tiago Costa, Gilmário Vemba, Eva RapDiva. Na verdade, não é só artista, mas algumas personalidades da sociedade civil!
Sabe-se que estabeleceram um acordo com as instituições penitenciárias para a criação de bibliotecas...
Celebrou-se o protocolo com os serviços prisionais, que vai permitir termos essa relação institucional de actuar em vários estabelecimentos prisionais. Estamos numa fase em que estamos a concertar a agenda com os serviços prisionais. Não são propriamente bibliotecas, são salas de leitura.
Estamos a falar de estabelecimentos de todo o país, como vão fazer para reunir tantos livros?
O que vamos fazer fora das cadeias é recolher livros e estabelecer algumas parcerias com bibliotecas e livrarias, escritores nacionais e internacionais, que nos possam doar livros e nos eventos onde, por vezes as pessoas pagam dinheiro, podem passar a doar livros e esses livros serão revertido para os mais variados estabelecimentos prisionais.
Qual será o itinerário?
O primeiro passo a ser dado vai ser na segunda-feira. Na segunda, vamos começar por visitar os estabelecimentos prisionais de Luanda. As primeiras actividades é para sabermos qual é o estado que se encontram os estabelecimentos prisionais.
Depois pretendemos elaborar manuais de formação de direitos humanos para a população penal, queremos fazer uma formação de formadores, onde podemos, por exemplo, fazer uma premiação anual de um agente penitenciário e do estabelecimento abrangido pelo projecto.