O artista angolano Evan Clever vai apresentar-se na Galeria Tamar Golan com “Boa Noite às coisas de aqui em baixo”, uma exposição individual a inaugurar no próximo dia 09 de Julho de 2021, pelas 16 horas.
A mostra ficará patente ao público até ao dia 30 de Julho de 2021, podendo ser visitada de Segunda a Sexta-feira, das 9h00 às 17h00, na galeria de arte contemporânea da Fundação Arte e Cultura.
A Exposição
A morfoplástica desta nova exposição de Evan Claver – Boa Noite às Coisas aqui em Baixo – bebe da quadricromia selectiva de Folk Tales, com as cores vermelha e amarela sobrepondo-se ao tom preto de base, conferindo ao quadro de abertura um prolegómeno de angolanidade, que a imagem branquíssima da santidade reconfigura em memória multicultural. Mas o povo é maior que a simbologia pátria. Gente de outras fotos reaparece, de olhar verde, castanho e sempre amarelo e sangue.
A inseminação geométrica do espaço a cinco cores deixa o azul recompor o traço como um bando de sonhos-robôs, círculos ao quadrado e pontas afiadas do tempo. Um roboteiro passa levantando borboletas do seu kangulu. Borboletas-navios de uma pátria em seu porão, esperando a mítica engenharia do renascimento.
De semba também se alua o bairro onde falta a luz eléctrica desde o tempo colonial. Evan Claver traz nas mãos a FOTOssíntese da luz preta que regrava este modo de ser angolano na passadeira da Arte, uma reza contra a fome, um tráfego de rodas e armas na cidade. Uma cidade que se esvai ao sol entre os olhares das zungueiras, os malabarismos do kuduro, enquanto os deuses dormem e um negro humano ressuscita entre as paredes altas da História.
À luz preta e branca, todas as imagens se desmitificam num conjunto de telas pequenas com sabor a teclas de um piano que nos toca o vazio sereno dos mitos construídos em vez de uma pátria. As noites abrem os corpos das mulheres à lua. Os que lutaram para que os outros ficassem só de vigia à luta. Os presos na sua própria consciência. O enigma incompleto da bandeira da república. Os concertos da fala e dos poderes. Há um olhar sentado num banco alto, ousando indagar o futuro. A Arte, afinal, é o sortilégio que pendura no espaço uma passada de quizomba.
José Luís Mendonça (Poeta)
O artista
Artista autodidacta, começou a desenhar em tenra idade. Estudou cinema e cinematografia. Peculiar pelo uso de doodles para retratar as dinâmicas, o caos e o movimento característicos da vida urbana. Ao fazê-lo, adopta uma postura de distanciamento que lhe permite, através das linhas, encenar a realidade frenética que observa todos os dias.
Recorrendo essencialmente à sátira política e social, o artista questiona a veracidade dos media e a passividade do observador e constrói uma zona teatral na qual os doodles funcionam como arma de sedução que não pretende favorecer nenhum dos lados. Provocação, fascínio e abjecção são os fios condutores do seu trabalho e através deles o artista lembra-nos que a beleza nem sempre se encontra nos padrões pré-estabelecidos ou nas cores.
Tem participações Artísticas, nomeadamente Universidade Lusíada ‘Notas sobre aqui’, Luanda, 2003, 1ª Trienal de Luanda, Fundação Sindika Dokolo, ‘Dipanda Forever’, 2004, Fuckin’ Globo, Luanda, 2016 e 2020, Jaango, 5a Edição, ‘Oficina de Artistas’, Luanda, 2016, AMREF Health Africa Artball, Nova Iorque, 2017, Sede das Nações Unidas, Brasil, 2017, Paolo Gentilani, colecção privada, ENI, Luanda, 2017, Showroom, Exposição Colectiva, Sede do Banco Económico, 2018,Design de Interiores (G80, Infinitus, Thomson Art house…). Possui, entretanto, várias obras em colecções privadas.