“Mwana Áfrika” começou como um blogue e actualmente é um programa televisivo explorador e sem fronteiras, que selecciona e lecciona o melhor do continente berço. Com dois anos de existência, continua a somar e seguir e a mais recente conquista foi a estreia no canal Trace Brasil, o canal de conteúdo 100% dedicado a Cultura Afro e protagonizado por criadores pretos, estreou no Brasil, no passado sábado dia 25 de Julho.
O programa homónimo da mentora, traz curiosidades excepcionais
sobre África e em particular sobre Angola: povos e etnias, filosofias de vida,
rituais, línguas e muito mais. Por intermédio da nota veiculada, ficamos a
saber que o magazine “vem reposicionar o lugar de ancestralidade na cabeça de
muita gente, reposicionando a ideia de quem sempre foi martelada na quebrada de
que a ancestralidade é amaldiçoada e o negro precisa fazer uma conversão para
poder ser uma pessoa melhor na vida”, explica o head de marketing.
Com 24 horas de programação, o canal tem planos de promover obras de ficção e
documentários de criadores pretos, além de outros conteúdos voltados à ciência,
tecnologia, empreendedorismo, culinária e história africana. “Por que
acreditamos no poder do casamento entre Cultura, Educação e Comunicação.
Compreendermos a Educação e a Comunicação como dimensões fundamentais da
Cultura” – revela a apresentadora.
Cinco perguntas à Mwana Áfrika
“Mwana Afrika” enquanto
magazine cultural já dura dois anos, qual é o balanço que faz desta jornada?
Balanço positivo. Todos os dias as pessoas clamam por mais e sugerem temas que
acreditam que precisam aprender. Tem sido uma verdadeira aula para todos nós. E
pulo de alegria quando percebo que conseguimos de certa forma mudar
mentalidades, rumo a uma revolução de pensamentos, cultura e acção.
Apesar de ter sido iniciado na RTP África, o programa é transmitido em três
canais da Televisão Pública de Angola. Como chega ao Canal Trace Brasil?
O convite surgiu da Direção do Canal Francês Trace Global. O convite acontece
numa fase em que surgem muitos outros convites e propostas para trabalhos
internacionais. Seja em televisão como em Projectos de Educação e Cultura. Os
conteúdos do Magazine “Mwana Afrika – Oficina Cultural” já são incluídos nas
aulas de História no Brasil e alguns temas escritos por mim foram incluídos nos
manuais escolares do Projecto UNOi Educação no Brasil. A internet teve um poder
preponderante para expansão e divulgação do meu trabalho. De certa forma
facilitou este intercâmbio e contacto. Então não hesitamos e fechamos o contrato.
Fui muito bem recebida pela equipa toda que super adoram o meu trabalho e
dedicação.
A estreia foi no sábado, já é possível mensurar o feedback do mesmo?
Sábado, Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, foi o dia escolhido, não apenas para a estreia do programa, como foi a estreia no Canal no Brasil. O Magazine foi o conteúdo de destaque e o público vibrou com isso. Recebemos centenas de mensagens. Do Brasil não esperava outra reacção. O povo tem sede de Cultura e Educação sobre África.
O Brasil é tido como o maior país “preto” do mundo fora de África. Em termos de selecção de conteúdo como funciona este quesito?
O povo afrodescendente há anos que vem lutando por representação na Mídia. E durante todos estes anos, quase que mendigou por isso. Infelizmente, no Brasil, as desigualdades sociais são tão visíveis em todas as esferas da sociedade. Então a Trace Brazuca surge com este fim. A Trace vai trazer novas narrativas sobre África, sobre a História do povo preto, seus ascendentes e sua contribuição para o Brasil que temos hoje. A Trace quer combater todos os esteriótipos criados pela mídia convencional. Quer fazer diferente. E estou no canal para contribuir nisso.
Certa vez em entrevista foi questionada sobre a questão do resgate cultural, ao qual respondeu que “não estamos num processo de resgate, mas sim de aprendizado.” Como avalia este processo actualmente?
Sim. Não se resgate o que nunca se teve. A nova geração africana e de afrodescendentes precisa entrar num processo de desconstrução e depois de aprendizado de novos olhares sobre a sua essência, sua identidade e espiritualidade. Sem isso continuaremos a lutar contra o racismo e todos os males que nos afligem, durante muitos mais anos.