A riqueza poética patente na música de Né Gonçalves alterou recentemente as listas de produção da Apple Music, Spotify e New Music, em Portugal.
Por este motivo, o artista continua a actualizar a sua discografia. Ontem, por exemplo, lançou mais single Menino De Rua, extraído do álbum Luanda, Meu Semba – Instrumental, publicado em 2012.
Pela sua especificidade, o tema pode constituir um documentário musical de sensibilidade clássica, por ter sido seleccionada de um álbum com fusões da música tradicional, Semba, Jazz e a música clássica orquestrada pela Sinfónica Nacional da República Checa.
De álbuns não é tudo, o músico tem produzido um novo, que poderá contar com participações de Selda, Yuri da Cunha e Tito Paris e resume nesta entrevista o essencial da obra.
Passados seis anos desde o lançamento do seu terceiro álbum, Sembamar, confirma os sinais que vêm das redes sociais de que um novo álbum está a caminho?
Sembamar tem-me pedido um irmão mais novo. Pede através das pessoas que reconhecem o sucesso que teve e reclamam novos sucessos. Sembamar teve cinco nomeações no Top Rádio Luanda (Semba, Kizomba , Música Folclórica, Melhor Produção Discográfica e Balada do Ano) e venceu na categoria “Melhor Produção Discográfica” de 2016. A música Nhami, foi escolhida pela voz de Sílvia Liberal para concorrer e venceu “Gentes e Música” da Rádio Benguela em 2018 e, no mesmo ano, a música Sembamar integrou a trilha sonora do filme Kalunga, o mar de Angola. Os resultados do Luanda Meu Semba, nas versões cantada e instrumental, foram igualmente interessantes. Por isso, é natural que os fãs exijam novidades.
Neste momento, apenas posso dizer que estamos a trabalhar para que este ano chegue ao público a obra que, muito provavelmente, se chamará Undengue Uetu.
É um artista cujo nível estético e poético evidenciam os tempos áureos da música angolana. Teremos um álbum diferente?
Pretendo manter a diversidade de estilos que caracteriza os CDs já lançados, a mesma tonalidade poética e melódica e a beleza dos arranjos está garantida pelo talento e cuidado máximo de Jorge Cervantes. De diferente, teremos algumas participações de artistas cujo nível vai, sem dúvida, agregar valor estético às obras. Veremos se será concretizada a ideia de Selda, Yuri da Cunha e Tito Paris estarem no CD ao lado da hipótese de outras igualmente importantes participações.
A música tradicional e aspectos da tradição angolana sempre foram exaltados na sua obra. O que doravante passará a caracterizar a carreira de várias décadas de Né Gonçalves?
Costumo dizer que não tenho propriamente uma carreira mas, apenas, um caminho musical, percorrido desde os 7 anos a pegar num violão, passando aos nove anos pela primeira banda infantil – os Mini Craques – e lançando esporadicamente CD’s essencialmente de composições próprias. A par de canções mais universais, o semba e outros estilos nacionais como a rebita e o kilapanga têm estado presentes e as temáticas abordadas têm muita relação com o que é nosso, no que temos e no que somos. A música é o meu hobby de eleição que sigo a par de outras actividades principais. Creio que o futuro vai se caracterizar por maior equilíbrio entre essas actividades e a música, sem prejuízo de nenhuma.
Pertence a um tempo em que imperavam os CDs. Até que ponto a pandemia, as novas tecnologias de informação e comunicação influenciaram as suas abordagens?
Vivemos uma era completamente nova a influenciar os modelos de distribuição e de comunicação da música. Hoje fazemos uma aposta forte nessas tecnologias que fez com que os CDs Luanda Meu Semba e Sembamar estejam presentes em mais de 150 plataformas digitais, criando uma relação de proximidade muito maior com o público interessado. A 7 de Maio teremos todo o álbum nessas plataformas. Dessa forma, estamos a preparar o terreno para o surgimento de novidades musicais.
Ao longo da sua actividade artística, como se adaptou às “atrocidades” do mercado?
Por não se tratar da minha actividade profissional, sou um artista livre, não dependente do mercado. Faço o que a inspiração ou a vontade ditam, sem estar amarrado ao que o mercado quer. É sempre um risco mas enfrento-o, sujeitando-me muito serenamente ao julgamento do público. Sei dos enormes sacrifícios por que passam os meus colegas que se dedicam exclusivamente à música. Mesmo quando se tem muito talento, é difícil encontrar espaços de oportunidade, crescer, afirmar-se, ter sucesso e manter-se no pódio. E em condições de pandemia, há muitas situações de sobrevivência e os músicos têm sido verdadeiros heróis ao continuar a trabalhar e contribuir para o equilíbrio emocional da população, sujeita a fortes pressões psicológicas por causa das restrições económicas e às