Numa altura em que os rappers da sua faixa etária limitam-se a cantar músicas “superficiais” e refrões de ostentação, Ney Tavira se apresenta como uma lufada de ar fresco para o movimento que tende a se tornar frívolo com o passar dos tempos. Aos 22 anos e com a veia virada para a intervenção, começou a cantar em 2011, altura em que as rodas de freestyles foram a sua escola, tendo já como maior inspiração a Força Suprema. Após 5 anos de interregno, o jovem rapper aproveitou o momento de “resguardo” para se reintegrar no movimento, com a música “Quarentena”, uma faixa que faz uma incursão pelos acontecimentos e problemas sociopolíticos do mundo com maior destaque para a pandemia do Covid-19, onde nos convida a fazer uma reflexão sobre o mundo à nossa volta.
A partir de que momento é que a música cruza o seu caminho?
Sempre gostei de música, mais propriamente com os meus 12 anos me senti fortemente atraído pelo estilo Rap. Foi instantâneo desde o momento que senti o instrumental Boom bap foi como se tivesse tido um frisson. Desde muito pequeno me cerquei por pessoas que partilhavam a mesma paixão, no colégio e na rua, o meu meio era o Rap, participava muito em rodas de freestyle, e ao longo desse período devido a convivência ingressei num grupo de Rap chamado SBC MUSIC ( 2011 à 2015), que posteriormente passou a se chamar “Matanga”, foi à partir desse momento que passei a participar literalmente em tracks.
Em que momento decide se profissionalizar?
Passei um tempo priorizando outras coisas, enquanto membro do grupo “Matanga” os nossos objectivos pessoais sobrepunham-se aos objectivos do grupo, então o grupo aos poucos deixou de existir, mas eu nunca deixei de ser Rapper. Tinha inúmeros projectos inacabados, ouvia sempre bom Rap, fiquei quase 5 anos sem lançar músicas, no entanto neste período de quarentena, comecei a rever todos os meus projectos antigos, e a chama se reacendeu e decidi então fazer um vídeo intitulado “ Instrospecção” e teve uma recepção muito boa. Posteriormente lancei um Single ilustrando o nosso panorama actual intitulado “Quarentena“e aconteceu o mesmo e daí eu vi, por quê não? Tentar fazer algo grande?!
O Rap desde sempre foi o seu estilo de eleição?
Nem sempre, teve um período que era muito fã do Bruno M por causa da mensagem que transmitia, mas como disse anteriormente aos 12 anos migrei para o Rap com um bilhete só de ida.
Boom Bap ou trap, onde melhor se enquadra?
Sou um Rapper criativo, consigo me enquadrar nas duas vibes.
Considera um “exercício” simples?
É só saber enquadrar o Flow, mas na verdade eu comecei com o Boom Bap, ao longo do tempo isso mudou, agora consigo fazer Rap até num beat de Kizomba.
O que é mais importante para si, o beat, as linhas ou a métrica?
Acho a métrica mais importante, se for para hierarquizar eu considero a seguinte ordem: Métrica, linhas e o Beat. As linhas até podem ser fracas, mas se enfatizarmos bem a métrica, o ouvinte viaja na wave, juntar o útil ao agradável mesmo é ser bom de métrica e de linhas.
Sendo uma carreira ainda em fase embrionária, considera que tem sido fácil?
Não tem sido fácil, porque as pessoas são mais susceptíveis a aceitar a cena de quem já é conhecido por isso preciso criar mais links com outros rappers, mas não é nada que com foco e determinação não se alcance, tenho de estar disposto a “pagar o preço” pois a minha atitude vai determinar a minha altitude.
Quais as maiores dificuldades que tem encontrado para solidificar a carreira?
Na altura que eu era integrante de um grupo o círculo de influência era maior, tinha mais links com rappers, depois desse todo tempo parado esta tem sido a minha maior dificuldade, por isso preciso criar sinergia com outros artistas e produtores por forma a alcançar mais pessoas, juntos somos mais fortes.
Neste momento considera indispensável o intercâmbio de ideias com outros artistas?
Exatamente! Quando há comunicação sinergética alcança-se resultados muito melhores.
Quantas músicas já disponibilizou?
Até ao momento tenho apenas 6 músicas para vos proporcionar conforto auditivo…
Quais os frutos que têm colhido destes trabalhos já disponibilizados?Até ao momento tenho colhido props, muitas mensagens de encorajamento, pessoas desconhecidas têm se identificado com as linhas, surgiram mais seguidores, pedidos de feats recorrentes… é muito bom saber que a tua cena é impactante, saber que és motivo do sorriso de alguém.
Recentemente disponibilizou a música intitulada `Quarentena´, um retrato da realidade actual, conseguiu um pouco de mais exposição se tratando de um tema pertinente?
Sim! Disponibilizei o single com um lyrics vídeo onde compilei muitas situações que temos vivido actualmente e isto fez com que muita gente apreciasse e refletisse comigo, a música “Quarentena” tem linhas muito fortes para serem ignoradas.
Quais são os artistas em que se inspira e quais as características que o “atraem”?
Gosto muito dos artistas da FS, a forma que eles metem as suas vidas nas rimas me atrai muito, usam com bastante eficácia a tríade Métrica, linhas e beat.
Quais os projectos que tem na forja?
Estou a preparam uma EP que vai contar com 8 tracks, sem previsões ainda, será a minha reintrodução no game, só coisas boas por se esperar.
Conta com o apoio da família para dar seguimento à música?
Felizmente sim, desde o tempo que só cantava no chuveiro, meus tios, primos e sobrinhos sabem que sou o Rapper da família.
Qual o pseudónimo que vai adoptar para a carreira artística?
“Ney Tavira”, as pessoas mais chegadas a mim me tratam por “Ney” e “Tavira” é o sobrenome do meu pai que infelizmente por algum erro não consta no meu registo, mas na mesma pretendo levar está nome longe.
Aonde pretende chegar com a música?
Pretendo alcançar muito mais pessoas porque trago material construtivo, reflexões complexas, mensagens fortes intrínsecas, mais pessoais tinham de sentir, quero transmitir conhecimento e experiências por meio da minha música.