Nucho é um nome a considerar na música angolana. Nos últimos tempos, o músico foi dos que mais evoluíram. Sua capacidade artística está evidente em temas como “Netas de N’zinga, “Era Feliz e Não Sabia”, ” Alembamento”, “Minha Angola” ou “Filho da Fome”, do seu álbum Origens, onde, antropologicamente, faz uma busca pelas suas raízes.
Pouco preocupado com rótulos, o músico apresenta-se como um artista verdadeiro, transmitindo mensagens de amor, esperança, superação e justiça social.
Suas obras “Páginas da Vida” e o “Soul (L) Rap” ajudaram-no a estar entre os melhores da música lusófona e em Angola pisou palcos dos principais festivais de música, e também integrou o Team de Sonho.
À sua maneira, vai segmentando o seu público com um novo álbum. A obra intitula-se Origens, traz uma matriz própria enraizada na antropologia cultural e social angolanas e reúne participações de Totó, Walter Ananás e explora as habilidades vocais de Conductor. O renomado produtor aparece no álbum de Nucho a interpretar uma das faixas.
O segundo álbum de Nucho é um tributo a Angola, terra que o viu nascer. Seis das faixas da obra estão disponíveis para o consumo gratuito em todas as plataformas digitais.

Sua carreia é marcada por vários acontecimentos: a integração no Tripla Aliança, o regresso ao país 18 anos depois, e a reentrada no mundo da música em 2015. Como viveu esses momentos?
Diante disso tudo o que me marca mais é o companheirismo e todo o crescimento a nível pessoal de fazer arte, que permitiu essa a troca de experiência, com artistas espectaculares, desde a partilha de experiência com ícones da música angolana como Conductor, Walter Ananás, Totó, etc. O que me deixa a maior marca na minha vida é esta oportunidade que eu tive de criar coisas que nem eu acreditava que era possível de criar.
Que relação tem com os fãs agora?
Boa. Recebo bastante feedback do povo, incluindo os de Moçambique e de outros sítios. O carinho, a forma como as pessoas têm abraçado a minha música, a minha arte, a forma como elas chegam a mim e dizem que eu estou a motivá-los a serem melhores pessoas, melhores cidadãos para trabalharem e continuarem alutar pelos seus sonhos. Mas, no final disso tudo, eu não faço para a fama, faço para tocar a alma. A música é o meu legado.
E de que forma quer alimentar este legado?
Neste momento estou a trabalhar no meu álbum “Orgens”, que sairá até no final deste ano, onde falo essencialmente das minhas raízes; do meu regresso a Angola-minha terra, meu país, minhas raízes. É um álbum onde toda a temática gira à volta de sonoridades e realidade angolana. Acabou de sair agora a música “Filho da Fome”. Além do álbum, estou a trabalhar no videoclip desta música, que em princípio deve sair em Agosto.
A temática do “Paginas da Vida”, por exemplo, difere totalmente do Soul(L) Rap. Até que ponto isto lhe beneficia?
Eu acredito na música, gosto de música e sou apaixonado por música. Para além disso, sou uma pessoa que acredita na liberdade mental. Nós não temos que ser fechados, temos de ter os horizontes abertos. A minha música espelha muito a minha vida e as coisas que eu gosto. Então, mais do que me preocupar com rótulos, eu preocupo-me em fazer boa música e música com mensagens positivas.
Mas já se apresentou com uma vertente “mais” underground…
É obvio que no início eu fazia um Rap mais puro, porque foi a primeira influência que tive. No meu bairro, basicamente, eu só ouvia Rap mas, à medida que eu fui crescendo, também fui amadurecendo e comecei a ouvir outros estilos musicais; comecei a ganhar mais coragem para desafiar-me e explorar coisas noivas. Músicas como “Era Feliz e Não Sabia” ft. Walter Ananás ou “Celebra” ft. Totó, eu nem sei qual é aquele estilo musical, porque não é uma coisa que me preocupa. Eu preocupo-me mesmo em fazer boa música, música que as pessoas se identifiquem, que as pessoas consigam tirar coisas positivas.
Este álbum surge numa altura em que tanto se fala sobre a busca pelas nossas raízes. Acha que os músicos angolanos deviam abordar mais sobre o assunto nas suas canções para elucidar os fãs ?
Não digo sim, não digo não. Cada um tem a sua forma de olhar para arte. Não sou o dono da verdade. Na minha opinião, é melhor falar da nossa realidade, porque o nosso país tem muita coisa para abordar. temos paisagens naturais e um povo espectacular e temos muitos problemas para abordar. Antes de privilegiarmos e falarmos da realidade que não conhecemos bem, como os EUA ou países europeus, faz mais sentido falarmos da realidade que vemos o dia-a-dia. Eu sou um artista que se inspira no quotidiano. Para mim faz mais sentido abordar temas relacionados com o país, para outros pode não fazer, e eu tenho que respeitar.
De que forma evidenciará a sua versatilidade e capacidade artística no Origens?
Em termos artísticos teremos um Nucho cada vez mais versátil, mais confiante, a fazer coisas novas, sem se preocupar com rótulos. Como disse anteriormente. Mas há uma coisa que para mim é negociável: terá o mesmo Nucho de sempre, que acredita na influência e no poder da palavra; que acredita nas mensagens positivas, na motivação, no amor, nos valores positivos. À semelhança do Sou (L) Rap, terão a minha alma no álbum. Eu só canto o que eu sinto, é isso que vão ter no álbum: verdade, Nucho de verdade. Não uma criação só para agradar as pessoas.
Teve grande destaque em concursos internacionais. Em Angola, participou nos principais festivais de música, inclusive, foi Team de Sonho. De tudo quanto sabe sobre o mercado da música angolana o quê que conclui?
Olho para a música angolana de forma saudável, acho que temos artistas espectaculares, todos os anos aparecem artistas novos, super talentosos. Então, eu acho que a música está saudável, tem-se feito coisas com qualidade. Mas acho também que a indústria pode melhorar.
Em que aspecto devíamos melhorar?
Apesar de termos grandes músicos e sermos ouvidos fora de Angola, ainda não estamos a conseguir capitalizar isso, para tornarmos uma indústria rentável. É muito estranho termos artistas tão populares e terem muitos problemas financeiros; é muito estranho ainda não termos aqui uma fábrica de CD, por exemplo, porque neste mercado ainda faz sentido, por ser um mercado onde as pessoas ainda não têm Internet. É muito estranho, por exemplo, não termos agências de artistas que consigam apanhar um artista do anonimato e fazê-lo crescer.
Como assim?
O que se vê nas nossas produtoras é que, basicamente pegam artistas que já estão feitos e que já têm fama na rua e depois apenas metem mais algum combustível. E também sinto que falta um bocado de originalidade. Acho que poderíamos ter artistas mais ousados. Resumindo, acho que temos uma cultura saudável, temos muito talento, mas falta um bocado de coragem e abertura e limar algumas arestas para atingir o nível seguinte, como o da Nigéria ou da África do Sul, não só na gravação das músicas, mas essencialmente nos espectáculos ao vivo que proporcionamos ao nosso público, acho que os nossos espectáculos ainda deixam muito a desejar.