Paulina Chiziane: “Uma das coisas que mais admiro em Angola é como recriam a língua portuguesa”

A questão da Memória, História e Identidade transformou-se no principal discurso de Paulina Chiziane, o que faz da escritora moçambicana uma ponte entre o passado e o futuro, transmitindo às novas gerações a ideia de continuidade do processo de “Libertação de África”.

Hoje, estes pensamentos chegaram também à música, mais precisamente através do seu CD de estreia “Contos de Esperança”, musicado pela neta. Editada em 2019, a obra foi apresentada em Angola no mês passado, com a presença da autora.

Durante a visita ao país, Chiziane manteve vários encontros com artistas angolanos, que culminou com uma palestra, em Luanda, no dia 28 de Fevereiro, sobre o “Berço Matrilinear Africano”, promovida pelo Movimento Ubuntu.

Antes de regressar à sua terra natal, a escritora moçambicana conversou com a Carga sobre a memória, identidade, tradição e resistência, características da sua escrita.

Há dois anos que era aguardada em Angola e neste evento em particular, considera que este é o momento certo para a sua vinda?

Acho que este é o momento certo, pois precisamos falar mais sobre nós africanos, recomeçar ou continuar as nossas lutas pelas nossas dignidades, que, falando concretamente sobre Moçambique, essas lutas estavam esmorecidas ou adormecidas e este reencontro “atrasado” pelo Covid, é um momento fértil para recomeçarmos a falar de nós mesmos, à semelhança do que já aconteceu no passado: havia mais encontros, mais colaboração, mais comunicação dos nossos dados desde o período pós-independência, depois disso, Angola entrou numa guerra civil e Moçambique, também.

A sua escrita é referenciada por atribuir o papel central à figura da mulher africana e por exaltar a diversidade cultural do seu povo. Qual acha que seria o papel da literatura angolana neste resgate?

Angola tem estado a trabalhar neste resgate e uma das coisas que admiro é como recriam a língua portuguesa e não estão tão presos aos modelos europeus como nós. Vocês falam de “bué, kota, kumbú” à vontade e começam a introduzir na Língua Portuguesa sem preconceito. E houve muitos preconceitos em relação ao meu trabalho, porque o meu trabalho não estava próximo do Português padrão, e isto complicou.

Então considera o nosso calão uma vantagem…

Não considero calão, considero que há recriação, ajuste e readaptação da Língua Portuguesa. Eu facilmente já consigo identificar um texto vosso, a língua portuguesa de Angola já começa a ter identidade.

Excluindo Angola e o seu elemento linguístico, este trabalho de resgate tem sido levado a cabo por outros países africanos? Nem sempre, há uns mais avançados que outros. Por exemplo, na África do Sul, que é um país com experiência e progresso grande, estou a ver que Angola já começa a vibrar e Moçambique a reduzir, mas pouco a pouco vamos chegar lá.

No seu discurso durante o “Diálogos Culturais”, disse que este trabalho de resgate passa pela revisão do material didáctico que nos é dado na escola. Enquanto isto não vem, de que outras formas poderemos acelerar este processo?

Todas as forças devem trabalhar a favor disto, quando as igrejas deixarem de achar que o diabo tem a cor e o cabelo de negro, já será um grande passo. Um exemplo é que as instituições públicas nem querem admitir que um africano entre no seu local de trabalho com o seu cabelo natural, no dia que vencermos esta barreira, teremos dado um grande progresso.

Ainda dentro deste tema, o que mais podemos esperar deste trabalho que vem desenvolvendo com Yuri da Cunha, Isidro Fortunato e outros nomes assumidamente pan-africanistas?

É muito trabalho não espere mais nada, (risos). É muito trabalho. Consegui introduzir este debate em termos populares e isto tem as suas exigências… vou continuar a escrever os textos. Há um grupo de jovens que vai fazer a música, a mensagem começa a passar, os outros que continuem (risos).

Frisou a questão do cabelo, a nível dos próprios africanos, como vê a questão da aceitação dos nossos traços identitários?

A libertação é um processo, a colonização foi um processo que durou séculos. E a libertação também irá durar muitos séculos. Nesta luta, uma geração passa o legado a outra e o facto de eu trabalhar com jovens é a garantia disto, mas serão estes mesmos jovens a passar a mensagem de acordo com a sua época. Nós fizemos as lutas, guerras e revoluções num contexto específico, as vossas lutas serão feitas num contexto diferente, não diria melhor, mas cada época tem a sua especificidade.

É pioneira da literatura moçambicana no feminino e a primeira mulher negra africana a ser laureada com o Prémio Camões. Considera que tem estado a cumprir a sua missão?

Eu tenho medo da palavra “missão”, só faço aquilo que posso e se isto for a minha missão, fiz até onde pude, hei-de continuar se puder. 

Agora, decidiu alargar o seu pensamento literário à música. Há algum sentimento que queira manifestar com a música que acha que não foi possível com a literatura?

Sim e não. Estou acompanhada de jovens que cantam e musicam aquilo que escrevo. Não posso dizer que não cantarei um dia.

O seu primeiro disco esteve em exposição no Diálogos Culturais e relativamente às obras literárias, quando é que teremos o seu repertório disponível em Angola?

Estou a ver se consigo tratar desta questão com o Movimento Ubuntu. Mas, vamos ver o que prática vai dizer, ainda há a questão do Covid, dos recursos, editar um livro é sempre caro.

Seu percurso literário começa com a Balada ao Vento, passa por Niketche: uma história de poligamia e juramento até O Canto do Escravizado. O que está a escrever neste momento?

No ano passado consegui lançar `A voz do cárcere´ foi feito de entrevistas a pessoas de diferentes prisões de Moçambique. É um livro interessante porque não fala só de justiça ou dos problemas de prisões, mas fala da questão humana e social… por exemplo, tem depoimento de uma mãe que foi presa e condenada a oito anos e tem nove filhos, é algo que acarreta muitas questões dentre as quais “o quê que acontece com os filhos”.

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