O país conta desde sábado com a Associação dos Hiphoppers de Angola, uma instituição de cariz social que passará a ajudar artistas em questões de doença, crise financeira, além de prestar apoio e assistência jurídica. Liderada por Dom Samu, a associação tem como membros MCK, Kid MC, Kool Klever e Drunk Master.
Com maiores produções até finais de 2010, apesar de ser o estilo que congrega maior popularidade, o Hip Hop em Angola, em particular o Rap, é também o género menos consensual entre os praticantes, que muitas vezes preferem alimentar o ego a unir-se para a mesma causa, por isso, rappers, b-boys, graphite writers e amantes da cultura criaram a instituição, para acautelar a situação.
Entretanto, os artistas sublinham que, a alegada falta de união, não justifica as constantes queixas sobre a pouca qualidade observada hoje na Nova Escola, porque, considera Dom Samu, a nova geração até pode inovar, mas não lhe falta referência para que se desviem da essência do hip hop.

Que estória está por detrás da criação desta associação?
A história por trás da criação da associação foi uma história trágica, que foi a morte do rapper pioneiro Ngadiama Wakambosonhi. Durante os últimos meses de vida, debateu-se com muitas doenças e sem apoio da família tivemos que nos juntar( nós hiphoppers) para ajudar o brother, conduzimos uma campanha de donativos encabeçada pelo MCK, Rap arte vida, Manhãs de Rap, Wakanda e por mim, que combinou na recolha de valores que serviu para internar o mano numa unidade hospitalar pública, onde ficou internado por uma semana, mas que infelizmente veio a falecer. Daí decidimos que não podemos perder outros manos então decidimos criar a associação.
Até mais ou menos 2012, observou-se um período de renascimento do hip hop angolano, depois da sua primeira manifestação no princípio dos anos 90. Podemos olhar para esta organização como o movimento que reoxigenará o hip hop nacional?
A década de 90 foi a génese do movimento, foi o começo dessa longa estrada, 2000 foi a peneira, pois foi nessa fase onde muitos abandonaram o movimento e uns poucos se manteram e, claro, novos rostos surgiram. A década de 2010 foi de facto uma década de renascimento da busca dos objetivos que estavam meio perdidos no meio da fama e manstream que muitos manos atingiram. Foi nessa década que surge a Universidade Hip Hop Angola , que tem ajudado muito na questão pedagógica e na informação das pessoas ligadas à cultura.
Gostaria de clarificar a sua resposta?
A associação vem tapar uma lacuna que existe desde o princípio, que é a unidade de todos os elementos em prol da mesma causa; esquecer os egos (os disse que disse) e ajudar-nos mutuamente quando for preciso, dar voz aos oprimidos, ser um escudo ( por isso a nossa marca é um escudo africano com duas lanças) que protege todos que buscarem o apoio da associação defendendo os mesmos com unhas e dentes.
Penso assim porque vi a morte artística e física de muitos niggaz por conta da nossa desunião.
Quando olha para tudo o que já viu e viveu no hip hop nacional, que quadro pinta hoje?
Vivemos um dos melhores períodos da cultura, pois temos todos os 10 elementos a funcionar, temos de tudo um pouco desde o conhecimento de rua, b- boys, mc, dj, médicos, grafiteiros, moda, empreendedorismo e outros. Antes tínhamos muitos rappers e djs e produtores e mais nada. Hoje ganharmos concurso internacionais de break dance, temos frescos de grafite na serra da Leba que são os maiores do mundo, temos muitos meninas a fazer Rap, temos muitos programas de hip-hop, perdemos este ou aquele para outros estilos e vida profissional mais isso faz parte da evolução e crescimento.
O que terá orginado esta mudança?
Idade, responsabilidades, moda e fama fizeram com que muitos abandonassem a cultura. Uns de forma absoluta, outros vão dando seu apoio como podem. Entretanto, temos muitos novos actores na cena! Hoje, temos o Beiral Squad, que é a união dos pioneiros e Old School do movimento e esse Beiral vem tapar a lacuna que existia no quesito passagem de testemunho. Hoje a nova vaga não pode dizer que não tem mais velho onde buscar experiência, pois estamos todos localizados no nosso Beiral virtual.
Contudo, há que convir que, nos últimos anos, houve algum desenvolvimento no Rap, o que não se pode dizer do grafite e o breaking.
Redondamente enganado. Houve muito mais evolução no break dance e grafite que no Rap como tal. Hoje, o Rap que se ouve nos media está muito descaracterizado por causa das várias misturas a que é submetido, eu até gosto de algumas, mas não podemos perder a essência. Podemos e devemos inovar, mas deve ter uma classe conservadora que guarda a essência do real hip hop.
Será este o papel da Associação dos Hiphoppers de Angola?
O papel da associação é de apoio aos seus associados, então quem se associar a nós poderá contar sempre com o nosso apoio.
Qual será a periodicidade do evento e que outros destaques gostaria de frisar?
Este primeiro evento é uma forma de apresentação da associação. A periodicidade vai depender da necessidade, pois estes eventos servirão como forma de angariar apoios para a associação. Faremos outros eventos em outros locais, desde shows, vendas de livros, roupa, peças de arte etc. Todo mundo poderá expor os seus produtos nos nossos eventos desde que a associação ganhe com isso claro. A inscrição na associação é de 5 mil Kwanzas e a quota mensal é 2 mil Kwanzas. Quando terminarmos o processo de legalização, que se encontra na fase final, os membros terão cartão de identificação.