Disponibilizou recentemente o oitavo álbum da carreira -As Aventuras de Robbie Wan Kenobie-, um trabalho que evoca a própria vivência, e a sua personagem preferida do franchising Star Wars. Falámos com o Rapper, numa conversa que contrasta o underground e a transcendência musical, a mudança de nome e, claro, sobre a covid-19.
O 4 de Maio foi escolhido propositadamente para tornar público o tão esperado álbum?
Sim, é o dia em que os fãs de Star Wars celebram a saga por todo o mundo, para já o lançamento foi apenas digital, pelas razões mais óbvias mas quando este pesadelo terminar irei anunciar a data do lançamento físico do álbum.
É habitual recorrer ao digital para partilhar os trabalhos em primeira mão, ou foi uma decisão forçada pelo Covid-19?
Não foi uma decisão forçada pelo Covid-19, há anos que tenho feito o lançamento digital em primeiro lugar e só depois o físico, pelo menos em Portugal tem sido assim tendem conta que as pessoas estão mais ligadas às plataformas digitais para o consumo musical.
É gratuito?
Risos… infelizmente não, eu investi neste álbum, como em todos os outros, mas este foi de forma completamente independente, desde à produção musical aos videoclipes e ainda terei de investir mais posteriormente, então não posso oferecer o álbum.
Há exactamente um ano, adiantou que é um álbum introspectivo, dark e muito metafórico. O que mais podemos saber desta nova obra?
Essa obra é baseada nas minhas vivências atuais, nas minhas viagens pelo mundo e na minha visão sobre o caos que o avanço tecnológico tem criado principalmente nos países mais desenvolvidos. O álbum traz nas letras muitas personagens da saga Star Wars através de metáforas para expor a minha verdade e a minha realidade.
Tem perpetuado o AKA Robbie Wan Kenobie, nome inspirado na sua personagem favorita da saga Star Wars, Obi Wan Kenobi…o álbum também terá um cunho da personagem ou tratam-se das suas aventuras?
Terá um pouco dos dois, da minha personagem e das minhas aventuras, poderemos ouvir e sentir exatamente isso nas faixas “O Equilíbrio da Força” com o Laton e no tema “À Moda Antiga” com o SP Deville.
Certa vez colocou a possibilidade de deixar de usar o nome Bob Da Rage Sense, ainda faz parte dos planos?
É ainda uma possibilidade sim mas não tenho uma ideia ainda fixa de quando é poderei deixar de usar o nome mas tenho a certeza de que o Robbie Wan Kenobie terá muito mais relevância a partir de agora.
Como está a viver os momentos que antecedem este lançamento no formato físico?
Momentos muito emocionantes para ser honesto, o feedback tem sido incrível, tenho recebido imensas mensagens de agradecimento pelo facto de ainda continuar um MC com relevância lírica e com estética musical, pessoas de todas as gerações e de vários países de expressão portuguesa nomeadamente Portugal, Angola, Brasil, Moçambique e Cabo Verde, fãs antigos e fãs mais recentes, tem sido surpreendente no bom sentido.

Em entrevista ao 2 Contra1 disse que não quer ser conotado como “um artista underground em Angola”. Como se define actualmente?
Sou um artista e ponto. Apesar de ser uma pessoa muito reservada e de ter uma postura dita underground não quer dizer que a minha música seja. Eu faço boa música e a minha música vende e passa nas rádios como um outro artista qualquer, em horas nobres, pelo menos em Portugal isso acontece e adorava que o mesmo acontecesse em Angola. Há rótulos que fazem sentido até um certo ponto e neste ponto para mim já não faz sentido, sou apenas um artista e gostaria de ser tratado como tal e não ser constantemente posto numa caixa.
A partir de que momento é que a sua música transcende os rótulos?
A partir do momento em que se torna popular, a partir do momento em que não passa despercebido em lado nenhum.
Concorda que os rappers undergrounds perderam o “peso” após a saída de JES do poder?
Sinceramente não estou muito a par disso, tenho acompanhado algumas coisas mas não estou inteiramente dentro do que se passa no HipHop Angolano a não ser uma coisa ou outra que me chame realmente atenção. No ano passado o JES não estava no poder e eu enchi o Cine Atlântico pela segunda vez (risos) não sei bem o que é que isso poderá significar.
Qual a sua opinião sobre as novas formas de entretenimento, face ao covid-19?
Odeio Tik Toks (risos) mas adoro o contributo que muitos músicos e artistas têm dado ao público durante o confinamento, estamos a conseguir mostrar ao mundo que podemos viver sem muitos luxos que na minha opinião e de muitos são completamente desnecessários, mas nunca sem música e arte.
Como está a viver estes momentos de distanciamento social?
Para ser honesto, estou habituado a estar muito tempo em casa, eu sou um eterno amante da solidão, não me faz confusão nenhuma porque mesmo em situações normais eu opto por este distanciamento social, a humanidade é tóxica e sempre que posso faço um break social.
Essa instabilidade já “beliscou” de alguma forma a sua agenda?
De forma nenhuma, a não ser o lançamento do álbum, não tinha nada de especial planeado.
Os músicos profissionais sobrevivem essencialmente dos cachês dos eventos, como está a viver este momento?
Eu estou bem (risos), não obstante disso os apoios têm surgido por parte das instituições que apoiam os artistas em Portugal, não me posso queixar.
Os artistas têm um papel crucial no que toca a sensibilizações, na sua óptica qual tem sido o posicionamento da classe?
Há imensos artistas por todo o globo a fazer imensas coisas boas, apesar de haver muita distração hoje em dia não acho que esse posicionamento tem vindo a perder vantagem, quem está atento ao que se passa a nível cultural por todo o mundo sabe que o balanço tem sido positivo apesar de alguns meios de comunicações quererem mostrar o contrário, ainda existem muitos artistas a sensibilizar as massas.