Leonardo Wawuti apresenta esta sexta-feira (24), data do seu aniversário, um novo álbum, onde reúne os 21 anos de experiência artística. Além desta obra, prepara o lançamento do 3.° e último volume do Conjunto Ngonguenha. Ainda nesta entrevista, o músico descreve as razões do actual estado do Rap em Angola.
Em Fevereiro do ano passado lançou “Noites, Cantos… Madrugada”, um álbum que surge na sequência do EP “Saia Rodada e Missangas”. O que traz neste novo EP?
Diferente do “Noite, cantos… Madrugada”, que foi 95% cantado, este álbum é 95% em Rap. Como maior parte dos meus trabalhos, é mais um mergulho no meu mundo. Meus pensamentos, alegrias, tristezas, sonho, etc.
Uma obra a ser apresentada no dia 24. Porquê Viagens à Terras da Minha Cabeça?
Porque neste EP as músicas são todas retalhos de pensamentos meus. Não tenho estórias, não tenho ego trip. São mesmo só correntes de pensamentos meus.
O que traz como participações ?
Tem 6 faixas e apenas uma participação do Mc Zai. O lançamento está previsto para dia 24 de Julho (meu aniversário) e estará disponível em todas a plataformas de streaming, incluindo no Kisom. Para venda estará exclusivamente disponível em formato digital na Soba Store.
Estava também a preparar o terceiro volume do Conjunto Ngonguenha e o “EP Mbundu”. Quando é que pensa lançar esses projectos?
O EP Mbundu está pronto. Estamos agora a criar espaço para o “Viagens à Terras da Minha Cabeça”, respirar e ter o seu espaço entre os ouvintes. Dentro de 4 a 5 meses lançamos. Quanto ao Conjunto Ngonguenha, temos a vontade de lançar o 3.º e último álbum. Temos tido dificuldade no alinhamento dos calendários individuais, mas se o universo ajudar podemos esperar pelo álbum em 2021
Quais as grandes novidades nos dois projectos?
O Mbundu é um EP que já está gravado há mais de 1 ano. Foi totalmente produzido por Henrique Jonas, que é um produtor muito talentoso no Brasil. É um projeCto conceptual que tem como pano de fundo a Negritude.

De que modo os 20 anos de carreira influenciaram no Viagens à Terra da Minha Cabeça?
A maior lição que trago do meu percurso, é que como artista devo ser destemido na entrega do que tenho para o ouvinte. Não me devo preocupar em maquilhar ou criar adornos para agradar. A minha energia deve fluir pura e “inadulterada” até ao ouvinte receptivo. O ouvinte que não gosta ou não entende, tem uma infinidade de fontes de música onde poderá encontrar o que procura.
Seus trabalhos foram sempre o reflexo de um período específico do país…
Como artista, acho que sou uma reflexão dos tempos em que vivo. Este EP embora pessoal faz referências ao tempo de hoje.
Tem sido hábito para os fãs a antecipação do álbum com um EP. Quando pensa apresentar o álbum físico ?
Devido aos novos hábitos de consumo de música, não acho que o formato de álbum tradicional funcione mais. Com a digitalização da música, a facilidade de pular de uma música para outra, de um álbum para outro e até mesmo de um artista para outro, faz com que um álbum que tenha 10 músicas, por exemplo, muito dificilmente seja consumido na sua íntegra como antes. O ouvinte é menos paciente e tem muito pouco tempo para apreciar um álbum. O indústria parece-me estar mais direccionada para singles do que álbuns. Então prefiro fazer álbuns ou EPs mais pequenos que possam ser apreciados como um só pacote.
Já pensou em protagonizar um concerto online para a apresentação do EP?
Claro. Este é o novo formato e quero ver como me posso encaixar nele. Estou a estudar uma forma de fazer isso acontecer, que seja marcante para o espectador e para mim também.
Foi responsável pela formação artística de vários rappers. Haverá neste EP influências do tipo de Rap que se faz hoje em dia?
Eu sou muito influenciado pelo que oiço. Essas influências na sua maioria manifestam-se de forma involuntária. Acredito que poderão sim encontrar algumas coisas que vos façam lembrar artistas que oiço da nova e velha escola.
Como olha para este fenómeno da Nova Escola?
O fenómeno da nova escola? Eu acho que não são muito diferente de nós. Claro que existem diferenças na linguagem, na sonoridade, mas esse fosso entre as gerações vai sempre existir. A Nova Escola constrói em cima das fundações da escola anterior, assim como também fizemos. As nossas opiniões como a geração anterior não terá muito peso em relação ao que o mercado e o tempo irão nos mostrar.
Que causas atribui a esses fenómenos?
A nova forma de fazer Rap ou música actualmente, para além de outros factores, tem como uma das maiores razões, a premiação, o tempo de antena nas rádios, sucesso comercial, fama, prémios etc. A tendência em copiar o que aparentemente tem sucesso é um comportamento humano. E depois temos que saber que cada geração tem a sua linguagem de comunicação, de estética, de postura para a vida que vai sempre ter um peso muito grande nas suas manifestações culturais. Creio que o fenómeno que vemos acontecer agora, acontece sempre com o nascimento de novas gerações, a única diferença está sempre no resultado, por este ser dependente da geração anterior.
Como descreve o actual estado do movimento Hip Hop em Angola?
O Hip Hop está vivo e só cresce. Acho que o saldo é positivo. Quanto à direcção, à sonoridade, e conteúdo, isso deixo para o mercado e o tempo decidirem o que é certo ou errado. Cada um deve fazer a sua parte como achar certo.
Por tudo que fez, está satisfeito pela forma como o movimento é levado hoje?
Independentemente do meu percurso, acho que seria mais interessante, se a diversidade do Hip Hop fosse melhor representada nas grandes televisões e rádios. Os media parece, na sua generalidade, estar mais interessado num tipo específico de Rap.
Como a nova geração podia ajudar a inverter isso?
Continuando a fazer o que está a fazer. A medida que o movimento cresce, os espaços nos media para Hip Hop vão crescendo e a necessidade de mostrar diversidade também.