O músico angolano Mauro Pastrana, autor do sucesso “Na má vida”, encontra-se em Portugal a gravar o vídeo da música “Motivo”. Ainda assim, tirou um tempo para uma entrevista com Revista Carga, onde, entre os vários temas, falou dos seus projectos, da forma como é visto por outros rappers, de alguns obstáculos na sua carreira e da “punchline” contra o Preto Show.
O que tem feito nos últimos tempos?
O Pastrana continua a trabalhar com a música, quem me conhece e acompanha o meu trabalho sabe que boa música e qualidade não faltam, sou apenas mais um de muitos artistas que não simpatiza-se com a mídia convencional. Sendo assim, é quase impossível saberem de mim se acompanharem somente a TV, Revistas Cor-de-rosa e Páginas de Fofoca.
Quais os projectos concretos que executou nos últimos dois anos?
Desde 2018 que tenho lançado vários projectos, que graças a Deus têm sido bem recebidos. O Primeiro foi o “Afro-Trap”, que contou com a música “Com a tua amiga” feat Zona 5. O segundo foi o “Hat-Trick”, com temas como “Andamento”, “Karma”, com as participações de Lil Drizzy e Edgar Domingos, respectivamente.
O último foi lançado em Setembro de 2019, intitulado “Poker”. Neste momento (9 de Março) estou em Lisboa a filmar o vídeo da música “Motivo”, que faz parte do Poker. Em Abril ou Maio sai o próximo projecto.
É conhecido por fazer várias fusões, qual o género musical com que se identifica?
Já me foi questionado várias vezes, principalmente por rappers. Eles sabem o que sou e represento, mas sei que o problema dos rappers não é a música e sim a pessoa.
Quer explicar?
Parece que sentem-se roubados quando surge mais um MC. Acredito que se a música “Má Vida” não tivesse o sucesso que teve não iriam julgar o que sou. Muitos tentaram fazer músicas com outras vibes e não tiveram sucesso, e quando outro rapper tem sucesso com outras vibes é julgado e chamam-no de fake, engraçados!
“O problema dos rappers não é a música, mas sim a pessoa. Parece que sentem-se roubados quando surge mais um MC”.
Está a dizer que são moralistas sem moral?
A meta desses supostos rappers, que ainda estão perdidos no tempo, é lutar para provar aos outros que ainda rimam bwé. No meu caso está em causa somente a música, por isso não vejo porquê não fazer mistura com outros géneros, até porque se for Rap levarei bastantes e não há dúvidas.
É da opinião que os músicos, independentemente do género que cantam, devem experimentar outras vibes?
Tenho capacidade de fazer várias cenas ligadas a música e não vou me limitar somente fazendo Rap, vivo como rapper, a minha filosofia musical é de rapper, a base de qualquer música que ouvires do Pastrana é o Rap.
Eu e os “meus” descobrimos muito cedo que essas fusões têm muito em comum, o trap tem quase o mesmo BPM do Kuduro, por isso não assustem se um dia ouvirem rappers americanos a droparem em Beats parecidos. Depois os tais rappers, hipócritas, virão com o discurso que estão a lutar para manter às raízes de algo que é nosso, quando nunca deram valor. Eu misturo até com Zouk, curto bwé dessa cena, mas se ouvires o flow verás que é um rapper a fazer aquilo.
Portanto, já não luto para provar se sou rapper ou não, sou o Pastrana e o Pastrana é muito mais do que isso.

Qual a diferença entre o Pastrana de ontem e o de hoje?
Acredito que a diferença está somente na maturidade, anos passam e vivemos coisas novas, logo aprendemos coisas novas, passámos a ser mais experientes e cautelosos.
O ser humano acerta e falha e quando erramos aprendemos, eu experimento coisas e muitas vezes erro, neste caso aprendo e assim vou me tornando mais homem e mais maduro. É quase impossível ser a mesma pessoa depois desses anos todos.
Numa das suas músicas lançou uma indirecta que foi directa para o Preto Show, qual foi o motivo?
Na verdade foi apenas um desabafo, muitas vezes uso a música para tirar de dentro as dores, alegrias e tristezas, foi nesse contexto que lancei a linha
Mas existe algum problema entre ambos?
Não temos problemas, apenas deixamos de ser amigos.
“Eu e o Preto Show vivemos muitas coisas e aprendi muito com ele, falar do que se passou entre nós estaria a por em causa a nossa integridade”.
O que se passou de concreto?
Eu e o Preto Show vivemos muitas coisas e aprendi muito com ele, falar do que se passou entre nós estaria a por em causa a nossa integridade, tenho muito respeito por ele e a sua família, infelizmente a vida tem dessas, nem tudo é para sempre.
Talvez o que Deus traçou ao cruzarmos era transmitir-nos alguma mensagem, algum aprendizado com relação amizade, irmandade e lealdade. Hoje cada um segue o seu caminho e desejo tudo de bom para ele, agora está na altura de ir buscar o que sempre foi meu.
Agora que toca neste assunto, fez muitos amigos “na música”?
O conceito de amizade é bwé diferente daquilo que vivi com alguns colegas, nunca fui fake ou interesseiro com os manos que comigo conviveram, mas hoje não posso dizer se fiz mais amigos ou inimigos, o mais difícil nesse mundo são as relações humanas. Do meu lado, continuo um puto respeitoso, não me incomodo com o sucesso de ninguém e por isso não tem como me tornar inimigo dos meus colegas.
“Actualmente sou barrado numa TV e existem rádios que não passam a minha música”
Se tivesse o poder de decidir a quem atribuiria o prémio de músico revelação?
A música tem crescido bastante, eu tenho acompanhado a evolução e o surgimento de vários artistas em diferentes géneros, mas falando do Rap surgiram três putos que andam com bastante garra, nomeadamente o Johnny Berry, Uami Ndongadas e Paulelson, há outros putos bons, mas esses têm se destacado.
O que falta para o Pastrana se impor definitivamente?
Eu acredito que o que fiz e tenho feito é suficiente para me impor, infelizmente o monopólio criado na música em Angola faz parecer que somente os músicos de supostas produtoras é que trabalham e merecem o reconhecimento, nós sabemos como isso funciona.
Sou um músico independentemente, e é mais complicado atingir certas metas (não é impossível). Provavelmente levarei mais tempo para alcançar isso, porque não sou bajulador, nem coloco em causa o meu carácter para estar na TV ou passar na rádio (actualmente sou barrado numa TV e existem rádios que não passam a minha música). Mas isso me fortalece, a Força Suprema é exemplo de que com trabalho e dedicação se chega longe, então é só bulir.